Romance da Lagoa Morta
Flávio Hansen
Surge a boieira na lagoa morta
Navega mansa e sem mover-se, verte
Como se a alma da lagoa inerte
Se levantasse pra bater-lhe a porta
E me permuta num silêncio insone
Da vila velha que se foi embora
De um salso morto que já hoje não chora
E da ternura de fugir dos homens
Disse a boieira que já foi feliz
E a chuva um dia pode bem sabê-la
Quando que chorava uma ou outra estrela
Dando a lagoa quantos lambaris
Mas hoje volta pra brincar nas águas
E refletir o que ficou do dia
E encontra vida que restou vazia
Boiando junto aos lambaris e mágoas
Outras estrelas não serão vindouras
Já que o espaço se tornou pequeno
E a própria água já virou veneno
Para o sucesso de colher lavouras
Mais triste o tempo que o progresso voa
Mais triste o homem que não tem estrelas
E não consegue mais reconhecer
Num céu escuro que já foi lagoa
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