Aluá
Raimundo Ramos
É melhor do que bom vinho
Mais gostoso que cará
Só igual ao seu gostinho
É da morena um beijinho
Dado com certo jeitinho
A’s ocultas do pápá
Quando vejo-te ostentoso
Em um copo de cristal
Por Deus! Que fico baboso
Sinto-me todo ansioso
Fico mesmo revoltoso
Como o mar em temporal
Misturado com cachaça
Chamamos peru sem osso!
É leve como fumaça
Tem certa cor, certa graça
Que vai fazendo pirraça
Tanto ao velho como ao moço
Da meia noite pro dia
Quando o mundo fica baço
É tal qual fuzilaria
Quem toma-lo se arrepia
E faz muita estrepolia
Com ele preso ao cachaço!
Nas noites lindas e belas
Quando a luz beija a areia
Nos arrabaldes, vêm elas
As morenas tão singelas
Dar aluá em tigelas
E eu bebo tigela e meia
Se no céu lá entre os anjos
Houver aluá também
Vou fazer certos arranjos
Para viver entre arcanjos
Deixando aqui os marmanjos
Que não me quiserem bem
Todos que têm morrido
Filhos cá do Ceará
Se foram bem doloridos
Deixando a terra, sentidos
Soltando fundos gemidos
Com saudades do aluá
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