Sonetos - Batista Cepelos (Espírito)
Maurício Gringo
Eu fui pedir à Natureza, um dia
Que me desse um consolo a tantas dores
Desalentado e triste, pressenti-a
Cansada e triste como os sofredores
Encaminhei-me à porta da agonia
Corroído por chagas interiores
Buscando a morte que me aparecia
Como o termo anelado aos dissabores
Desvendando esse trágico segredo
Que a alma decifra, pávida de medo
Com ansiedade e temores dos galés
Mas ah! Que atroz remorso me persegue!
Choro, soluço, clamo e ele me segue
Nesse abismo que se abre ante os meus pés
Ninguém ouve na Terra esse lamento
Da minha dor imensa, incompreendida
Nas pavorosas trevas desta vida
Em que eu julgava achar o esquecimento
Tenebrosa, essa noite indefinida
Cheia de tempestade e sofrimento
No país do Pavor e do Tormento
Onde chora a minhalma enceguecida
Onde o não-ser, a paz calma e serena
Que me traria o bálsamo a esta pena
Interminável, rude, dolorosa?
Ninguém! Uma só voz não me responde!
Sinto somente a treva que me esconde
Na vastidão da noite tormentosa
Sirva-vos de escarmento a dor que trago
Na minhalma infeliz e sofredora
Este padecimento com que pago
O desvio da estrada salvadora
Aqui somente ampara-me esse vago
Pressentimento de uma nova aurora
Quando terei os bens, o brando afago
Da Luz, que está na dor depuradora
Agora, sim! Depois de tantos anos
De tormentos, em meio aos desenganos
Espero o sol de novas alvoradas
De existências de pranto e de miséria
Para beber no cálix da matéria
As essências das dores renegadas!
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