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Fazer loginImagine uma música que já foi interpretada por mais de 32 artistas diferentes, em variadas épocas e nos mais diversos estilos. Se No Rancho Fundo passou pela sua cabeça, você pensou certo!
A melodia da música foi criada por Ary Barroso, reconhecido como um dos maiores compositores do Brasil. Ele criou uma composição única para uma letra que havia sido escrita por J. Carlos.
Mas nem o título, nem os versos se mantiveram na versão final. Algumas alterações foram feitas para chegar até a canção que conhecemos hoje.
Ficou curioso para entender melhor essa história? 🤔 Então, confira agora todos os segredos por trás de No Rancho Fundo e as suas versões mais marcantes!
Em 1930, J. Carlos havia composto uma letra intitulada Esse Mulato Ainda Vai Ser Meu – Na Grota Funda. Ele escolheu uma melodia composta por Ary Barroso, que encaixava muito bem na composição. Na época, os versos começavam assim:
Na grota funda
Na virada da montanha
Só se conta uma façanha
Do mulato da Raimunda
Naquele período, Ary Barroso tinha acabado de se mudar para o Rio de Janeiro e compunha melodias para peças teatrais para se manter. Ele tinha até um contrato fixo com o Teatro Recreio. Foi assim que essa primeira versão da música foi lançada na trilha sonora da peça É do Balacobaco.
Lamartine Babo estava presente nas primeiras apresentações e ouviu Na Grota Funda. Foi aí que os rumos da canção começaram a mudar.
O jovem compositor carioca resolveu então escrever uma nova letra, mais compatível com a beleza do ritmo e dos acordes da composição. O conteúdo dessa versão é um relato melancólico e super sensível de um camponês que vive no alto de uma montanha, bem longe da civilização.
Lamartine Babo fez tudo isso sem avisar aos compositores originais. Esses novos versos de No Rancho Fundo, escritos por ele, compõem a versão da música que conhecemos hoje:
A primeira apresentação de No Rancho Fundo foi feita pelo próprio Lamartine Babo, no programa que participava na rádio Educadora, acompanhado de Noel Rosa e Braguinha. O público e os produtores que ouviram a música ficaram encantados!
Só que J. Carlos não gostou nada dessa história. Ele ficou enfurecido com a alteração da letra, que foi feita sem a sua autorização. Diante dessa decepção, a sua amizade com Ary Barroso chegou ao fim.
Enquanto perdia um amigo, o cantor mineiro ganhava outro. Da composição de No Rancho Fundo nasceu uma parceria com Lamartine Babo, que duraria muitos anos e renderia inúmeros sucessos para a música brasileira.
Resolvidos todos os percalços dessa polêmica, a nova canção foi gravada pela primeira vez no ano seguinte, em 1931, pela cantora Elisa Coelho, uma das preferidas de Ary Barroso. Confira essa verdadeira relíquia:
No Rancho Fundo não tem só uma história curiosa em sua composição. Muitos anos depois, em meados da década de 1980, Jards Macalé estava no fundo do poço. Tanto na carreira musical quanto na vida pessoal. E encontrou a sua salvação nesse clássico. Olha só:
Naquele período, o cantor não conseguia se identificar com a música produzida no momento e havia sido “cancelado” pelos colegas de esquerda ao participar de uma estratégia de abertura política durante a ditadura.
Até a sua mulher, filha do então governador de Minas Gerais, aliado aos militares, tinha sido alvo de críticas.
Afundado nesse caos, Jards Macalé resolveu desistir da vida e começou a ligar para todos os seus amigos e parceiros da música. Ele queria ouvir a voz deles pela última vez.
Uma das pessoas para quem ligou foi João Gilberto. Ao final da ligação, o cantor pediu para que Macalé fosse até a sua casa. Ao chegar lá, foi convidado para entrar no quarto dele, que estava escuro. Uma melodia começava a ser tocada, no violão: os primeiros acordes de No Rancho Fundo.
Jards Macalé ouviu a canção por horas a fio e ficou hipnotizado com a beleza da melodia e da letra. Foi se deixando levar, até que caiu no sono. Só acordou no dia seguinte, com João Gilberto lhe oferecendo um café.
E esse momento de magia musical foi o impulso que o cantor precisava para sair da angústia e seguir em frente.
Ao longo dos seus 90 anos de existência, No Rancho Fundo recebeu inúmeras versões, dos mais variados estilos musicais. Conheça, a seguir, as principais interpretações desse clássico:
Em 1989, no auge da carreira, a dupla Chitãozinho e Xororó resolveu gravar uma interpretação da música. Essa versão acabou retomando a popularidade da canção, que também fez parte da trilha sonora da novela Tieta.
Foi aí que No Rancho Fundo acabou se tornando um grande clássico do sertanejo nacional. Algo que os seus compositores nem imaginavam!
Poucos anos depois da primeira gravação, outro cantor da década de 1930 resolveu interpretar No Rancho Fundo. Foi Silvio Caldas, que manteve o estilo samba-canção de Ary Barroso e Lamartine Babo.
Conheça essa versão, tão linda quanto a original:
Outra dupla sertaneja que resolveu fazer a sua própria versão da música foi César Menotti e Fabiano. A gravação, mais contemporânea, contribui até hoje para que novas gerações conheçam toda a genialidade e beleza de No Rancho Fundo.
Em 1993, o cantor Nelson Gonçalves, conhecido como “O Boêmio”, deu um toque todo especial para No Rancho Fundo, com sua voz forte e impactante.
Outro cantor muito reconhecido na história da música brasileira, Almir Sater também contribuiu com uma interpretação de No Rancho Fundo. Ele acrescentou alguns detalhes autorais na melodia, mas manteve a letra original.
Além de No Rancho Fundo, que você acaba de conhecer a história e as principais versões, Ary Barroso compôs outros clássicos da música brasileira. Um deles é Aquarela do Brasil, que você também não pode deixar de descobrir a história!
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