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Análise da música Esquadros, de Adriana Calcanhotto

Analisando letras · Por Renata Arruda

13 de Outubro de 2020, às 12:00

Dona de uma das mais belas vozes do país, com um repertório marcado por canções repletas de lirismo e melancolia, Adriana Calcanhotto lançou seu primeiro álbum em 1990, mas foi com o lançamento de Senhas, seu segundo trabalho, que ela conquistou todo o país.

Adriana Calcanhotto
Créditos: Divulgação

E um dos motivos para isso foi o grande sucesso da música Esquadros, que até hoje é adorada pelos fãs da MPB. Com uma letra reflexiva, a canção não tem um significado muito claro e gera várias interpretações diferentes, de acordo com cada ouvinte.

Por isso, resolvemos trazer uma análise detalhada de Esquadros, da Adriana Calcanhotto. Vem ver nossa interpretação!

Esquadros, de Adriana Calcanhotto: análise

Um dos maiores hits de Adriana Calcanhotto, Esquadros foi composta em parceria com Cláudio Calcanhotto, irmão da cantora, e é dedicada a ele.

A canção traz um tom melancólico que casa perfeitamente com a atmosfera de solidão presente na letra.

Acompanhe nossa análise:

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

A música começa com a personagem transitando pelas cidades por onde passa. Em seu ofício de cantora, é comum que a artista precise viajar e se deslocar para diversos lugares, conhecidos e desconhecidos.

Assim, ela menciona o que mais chama a sua atenção enquanto observadora: as diversas cores diferentes dos lugares por onde anda, algumas que ela nem sequer sabe como se chamam.

Para evocar a sensação de deslumbramento, ela cita dois artistas muito famosos pelo uso que fazem de cores fortes e vibrantes: o cineasta espanhol Pedro Almodóvar e a pintora mexicana Frida Kahlo.

Frida Kahlo
Frida Kahlo / Créditos: Divulgação

Vale mencionar que os tons fortes, chamados de chillones, são usados por Almodóvar para expressar os sentimentos das personagens, capturando a atenção do espectador. O mesmo pode ser dito para Frida Kahlo, que atribuía significado emotivo às cores.

Uma outra interpretação comum seria a de que Calcanhotto menciona os dois artistas como referência de símbolos da comunidade LGBTQI+, e as cores seriam uma forma de expressar essa diversidade.

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Pra sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus

Embora algumas pessoas acreditem que os versos acima sejam uma referência a um irmão com deficiência visual da cantora, isso não passa de boato desmentido por ela: Cláudio Calcanhotto não tem nenhum tipo de deficiência.

Logo, podemos concluir que a personagem continua a relatar sua experiência, tentando traduzir sensações em palavras: quando diz que passeia pelo escuro, pode tanto estar se referindo a locais sombrios da cidade por onde anda ao lado de seu irmão, como à sensação de estar perdida, sem saber que direção tomar.

Assim, temos a impressão de que a autora procura maneiras de se proteger do desconhecido, tentando antecipar as situações para ter controle sobre elas e não ser pega de surpresa.

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome

Na estrofe acima, a autora faz uma menção ao seu trabalho de cantora de maneira mais clara: ao mesmo tempo em que roda o mundo em turnês, divertindo as pessoas, ela chora ao telefone — uma possível referência à solidão e à saudade por estar distante de quem ama.

Do mesmo modo, ela também mostra se compadecer das crianças que vivem em situação de rua e passam fome que ela observa em suas viagens, mostrando as tensões sociais presentes no país.

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

No refrão, a compositora demonstra uma certa angústia por observar a vida através de telas e janelas: a janela do carro que a leva de um lugar para outro, a tela da TV, as janelas de quartos de hotéis e restaurantes, por exemplo.

Assim, sua visão do mundo seria a de uma observadora passiva, que não possui nenhum controle sobre a realidade que a cerca.

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Trânsito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Continuando suas observações sobre o caos das cidades, ela passa a refletir sobre questões filosóficas como: para quê correm os automóveis da cidade? Para onde as crianças correm?

Ao dizer eu gosto de opostos, podemos concluir que a autora se sente atraída por aquilo que é contraditório, diferente, e que se sente confortável tanto de um lado quanto do outro. Para algumas pessoas, essa seria a referência mais explícita da cantora à bissexualidade.

Ela termina a estrofe refletindo que, ao mesmo tempo em que se mostra e se expõe ao seu público, não sabe quem são as pessoas que assistem seus shows e consomem sua música.

Da mesma maneira, ela também pode estar se perguntando para quem, de fato, ela compõe e canta suas canções?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Uma outra interpretação do refrão seria a de que a autora estaria falando sobre sua sexualidade, como quem observa de longe uma sociedade careta e quadrada, que encara esse assunto como um tabu e controla remotamente a vida das pessoas.

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Mais uma vez a autora se refere à solidão de viajar o mundo em turnê e passar os seus dias longe dos seus amigos e das pessoas que ama, como sua falecida companheira, Suzana de Moraes, com quem namorava na época.

Suzana de Moraes e Adriana Calcanhotto
Suzana de Moraes e Adriana Calcanhotto / Créditos: Divulgação

Esquadros: primeiro sucesso de Adriana Calcanhotto

Esquadros foi a primeira canção de Adriana Calcanhotto a fazer sucesso.

Conta-se que o pontapé que levou a cantora à fama foi a apresentação que aconteceu em 1993 no programa Por Acaso, em que ela interpretou a canção ao lado de Renato Russo.

A composição de Esquadros

Recentemente, a cantora falou sobre a composição de Esquadros em seu canal do YouTube, no quadro Minha Música

Ela explicou que a música fora composta de forma fragmentada. Na época, ela nem mesmo sabia se esses dois trechos fariam parte da mesma canção ou se seriam duas faixas diferentes. No fim, tudo se encaixou.

Calcanhotto aproveitou também para desmentir o boato de que a música teria sido dedicada ao seu irmão por ele ter algum tipo de deficiência. Ela esclareceu:

Trabalhei na levada com meu irmão Cláudio, que é músico. A base e a levada de baião foram feitas com ele. E eu vejo muitos comentários de que essa canção seria pra ele e que ele seria uma pessoa com algum tipo de deficiência, o que não é verdade, disse.

E continuou: a canção é pra ele simplesmente pelo fato de que ele é um parceiro da canção. Mas mais do que parceria, ele é a musa da canção porque eu senti falta dele e terminei a canção com essa falta. É por isso.

Frases da MPB

Assim como Esquadros, a MPB é cheia de composições inspiradoras.

Se você é fã dos trechos nacionais, que tal conferir as 40 melhores frases da MPB para compartilhar nas redes sociais?

frases mpb

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