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Fazer loginUm dos mais importantes grupos de rock do Brasil, Os Paralamas do Sucesso são conhecidos por sua capacidade de inovar e se reinventar.
Quando falamos nas melhores músicas dos Paralamas, é impossível não pensar em Lanterna Dos Afogados. Composta pelo vocalista Herbert Vianna, a canção emociona na mesma medida em que intriga os ouvintes: sobre o que se trata, afinal? 🤔
Por isso, hoje vamos apresentar a você uma análise da canção, interpretando a música a partir de sua relação com o livro Jubiabá, de Jorge Amado. Não entendeu o que uma coisa tem a ver com a outra? Vem que a gente te explica!
Em 1935, Jorge Amado publicou Jubiabá, história que tem como cenário a cidade de Salvador. O romance conta a história de Antônio Balduíno, menino criado na favela que sonha com uma vida de liberdade.
Sentindo-se inadequado na sociedade e ganhando a vida com ocupações que vão desde mendigar a ser músico e boxeador, Balduíno passa o seu tempo bebendo no fictício bar Lanterna Dos Afogados, onde as classes populares da cidade se reúnem.
O bar, que também dá título a um capítulo do livro, é localizado no cais do porto e tem em sua fachada a pintura de uma sereia que retira um suicida do mar. Na narrativa, é próximo ao Lanterna Dos Afogados que aparecem, flutuando no mar, os corpos de suicidas.
Ao contrário da informação que circula, não há mulheres de pescadores com lanternas esperando por seus maridos na história. Há personagens excluídos da sociedade que procuram o bar para aliviar suas dores e encontram no mar um caminho sem volta.
Agora que você entendeu o contexto do livro, que tal conferir a nossa análise de Lanterna Dos Afogados acompanhando cada estrofe da canção?
Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Em Jubiabá, Antônio Balduíno é representado como um líder de caráter valente e briguento, que ama a liberdade e se recusa a trabalhar.
Como ele, muitos de seus amigos são solitários e vivem uma vida de miséria, sem ter uma família a qual recorrer. Um desses amigos adoece e, em meio ao desespero, decide atirar-se ao mar.
Durante a noite, Balduíno vai até a praia para refletir sobre a vida, olhando as estrelas e encarando o mar, que considera como um caminho “de volta pra casa”. É também à noite que surgem na água os corpos dos suicidas.
Assim, os primeiros versos da canção falam sobre aquele momento do dia em que alguém que aparenta ser forte finalmente se permite dar vazão aos próprios sofrimentos. É sobre sofrer em silêncio.
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Se pensarmos no que é narrado no livro, a estrofe seguinte é ambígua: a luz no túnel dos desesperados pode ser considerada como a decisão final de terminar com o próprio sofrimento, uma vez que o cais do porto estará sempre lá pra quem precisa chegar.
Em uma perspectiva mais otimista, a luz no túnel pode ser simbolizada pelo próprio botequim onde os amigos se reúnem. Onde há bebida, música e vida para consolar os corações angustiados.
A mensagem que fica é: sempre há uma saída.
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
A interpretação otimista é reforçada pelos versos acima, em que o personagem da canção se oferece como ombro amigo para alguém que acredita não ter a quem recorrer.
Assim, a Lanterna Dos Afogados ganha um sentido esperançoso, de um lugar onde é possível encontrar uma solução, ou um alívio, para o sofrimento.
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
Nesta estrofe, a música parece falar sobre alguém jovem (uma vida curta) que vem passando por um longo período de sofrimento (uma noite longa), possivelmente uma depressão.
Pode também se referir à brevidade da vida em si, que passa muito rápido enquanto o desespero parece alongar-se indefinidamente.
Seja como for, ele afirma que não importa o quanto a situação esteja difícil, ele fará o que puder para ajudar a pessoa a sair dessa.
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Aqui o cantor mostra que ele mesmo carrega tantas marcas de sofrimentos que elas já se tornaram parte de quem ele é. Mesmo assim, ele segue em frente.
Ou seja, o letrista se coloca como alguém não só capaz de sentir empatia pelas dores alheias, como também de oferecer um suporte para a outra pessoa poder se apoiar.
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
Agora, podemos concluir que a Lanterna Dos Afogados é uma metáfora que representa a ideia de um espaço seguro, para onde a pessoa em sofrimento pode recorrer durante um momento de angústia
E o mais importante: ela não precisa ter medo de pedir ajuda. Ele quer que ela venha o mais rápido possível.
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
Aqui os versos se repetem, reforçando o recado: não importa pelo que você esteja passando, saiba que sempre poderá contar comigo.
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
Encerrando a canção, fica a mensagem: por maior que seja o seu sofrimento, sempre há uma saída e alguém com quem contar. Não deixe de procurar ajuda.
Apesar de ter uma letra com um significado forte, a história da composição de Lanterna Dos Afogados é simples e despretensiosa.
Em uma entrevista para a revista Vinho Magazine, em 2000, Herbert Vianna contou sobre como a música surgiu — até onde se sabe, uma das raras ocasiões em que o compositor falou sobre o assunto. Confira:
Certa vez, saí com minha namorada para jantar. Sentei na moto, ela começou a conversar, mas pedi que ela não falasse mais nada, porque estava com a melodia e a letra na cabeça. Quando chegamos ao restaurante, em Ipanema, o garçom veio saber o nosso pedido. “Papel e caneta, rápido”, foi o que eu pedi. Naqueles dez minutos de moto, da minha casa até o restaurante, a música foi composta.
Você sabia que uma das músicas mais famosas do pop rock brasileiro também foi inspirada em um grande livro da literatura mundial?
Vem conferir a análise da música Dom Quixote, do Engenheiros do Hawaii, e descubra todas as referências presentes na canção que tem como inspiração o livro de Miguel de Cervantes.
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