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Confira a análise da música Medo da Chuva, de Raul Seixas

Analisando letras · Por Érika Freire

17 de Setembro de 2021, às 19:00

A capacidade de Raul Seixas para compor letras multifacetadas era admirável. É mais do que merecida a fama de gênio que o pai do rock carrega até hoje, com um legado marcado por grandes composições. 

Em Medo da Chuva, canção presente no álbum Gita, o terceiro da carreira de Raul, lançado em 1974, ele faz uma crítica ao casamento, enquanto uma instituição que foi imposta aos seres humanos

Raul Seixas
Créditos: Divulgação

Como tudo o que é determinado, mina a liberdade individual das pessoas, e quem compreende um pouco do universo de Raul Seixas, sabe o quanto ele era um defensor da vida livre.

Um ano depois, quando lançou Novo Aeon, ele voltou a falar sobre o amor livre na bela canção A Maçã. Vamos a seguir saber mais sobre o que Raulzito quis dizer quando escreveu Medo da Chuva

Análise da música Medo da Chuva 

A música Medo da Chuva é mais uma que marca a parceria entre Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho. Juntos, eles criaram composições enigmáticas que permitem interpretações distintas. 

Raul Seixas e Paulo Coelho
Raul Seixas e Paulo Coelho / Créditos: Divulgação

Raul era um homem intenso, gostava de compreender melhor o mundo e as suas infinitas possibilidades. Era um buscador incansável e foi um homem de muitos amores.

Teve cinco casamentos e todas essas experiências afetivas, de uma forma ou de outra, inspiraram suas composições. 

É o que ocorre na belíssima canção Medo da Chuva, na qual Raul fala sobre o casamento através de um ponto de vista mais crítico.

Ao que tudo indica, ele escreveu quando estava se separando da sua primeira esposa, Edith Wisner, com quem se casou em 1967. 

Casamento de Raul Seixas e Edith Wisner
Casamento de Raul Seixas e Edith Wisner / Créditos: Divulgação

Quando foi para o exílio nos Estados Unidos, conheceu Gloria Vaquer e há indícios de que ele tenha começado uma nova relação sem terminar a anterior. Eles ficaram juntos por três anos, de 75 a 78. 

No período entre um amor e outro, a letra Medo da Chuva foi composta, resultando nos versos escritos por Raul. 

Análise dos versos da música Medo da Chuva

Veja com Raul expõem a sua insatisfação logo no início:

É pena que você pense
Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir

Raul se refere claramente ao casamento, relatando se sentir escravo por ter que ficar preso em uma relação que, pelo jeito, não funcionava mais.

Pelas regras impostas, o fato dele ser oficialmente um marido não lhe daria o direito de ir embora. 

É uma reflexão um tanto triste, com uma mistura de sentimento entre raiva e indignação como quem diz: como assim eu não posso partir?

Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao seu lado sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver

Ele se compara com pedras imóveis que não podem ter a liberdade de migrar para um outro lugar. Em um casamento, se faz a promessa de permanecer juntos “até que a morte os separe” e, caso alguém se depare com a possibilidade de viver uma nova paixão, isso não é permitido

Vida e natureza sempre em movimento

Chegamos ao refrão, uma das partes mais emocionantes da música e Raul faz uma comparação da natureza com a impermanência da vida:

Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra terra traz coisas do ar

Ao declarar que perdeu o medo da chuva, ele quer dizer que está pronto para caminhar com o fluxo natural.

Ele não teme mais as mudanças, aprendeu que assim como o ciclo da água, que cai na terra e depois volta em novas versões, a vida também se transforma. 

Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar

Nesta estrofe, fica ainda mais clara a metáfora que ele usou entre chuva e vida. O segredo, para ele, é a capacidade de mudar. Nada fica parado, tudo está sempre em constante evolução.

O casamento, principalmente quando o amor acaba, faz com que as pessoas se sintam presas. Muitas acreditam que não podem mais viver uma nova vida e ficam condenadas a uma relação fracassada por puro medo do julgamento. 

A vida é curta demais para amar uma vez só 

Chegando aos versos finais de Medo da Chuva, Raul fala sobre a sua dificuldade de compreender o motivo de tanta gente se render ao casamento apenas para cumprir contratos sociais: 

Eu não posso entender
Tanta gente aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem aquilo
Que o padre falou

Para ele, os votos que as pessoas fazem ao casar são mentirosos, baseados em ilusões do catolicismo que defende o amor e o respeito na alegria e na tristeza, até o fim da vida, como uma condenação. 

Se a vida é impermanente, como alguém pode jurar amar pra sempre? E as mudanças que ocorrem no meio do caminho? E as pessoas que surgem cada vez que a gente cruza uma nova esquina? 

Porque quando eu jurei meu amor
Eu traí a mim mesmo, hoje eu sei
Que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez
Uma vez

Então, Raul mais uma vez genial, finaliza dizendo que quando jurou amor, traiu a si mesmo e todo o seu universo interno que não para nunca de evoluir. A nossa única promessa e compromisso deveria ser com nós mesmos

Devemos aprender a nos amar da maneira que somos, e não a uma outra pessoa que, muitas vezes, nem conhecemos direito.

Para Raul, é uma lástima passar pela vida preso a um único amor. Amar uma vez só seria desperdiçar as chances de experienciar nossa evolução

Frases inesquecíveis de Raul Seixas 

Se você chegou até aqui certamente adora o nosso Maluco Beleza, né? O cantor baiano partiu muito cedo, para a tristeza dos fãs, mas deixou um legado imenso, complexo e atual. 

Depois de conhecer a análise da música Medo Da Chuva, vem conferir 60 frases de Raul Seixas para você se inspirar e compartilhar. 

frases raul seixas

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