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A Rua do Desencanto

Lucília do Carmo

A rua do desencanto
Maré solta sem abrigo
Tem pedras feitas de pranto
Como cumprindo um castigo
Uma vida de abandono
Começa onde quer findar
Noites e noites sem sonho
Dias sem querer acordar

Escuridão feita de medo
Vozes roucas de ciúme
Vão murmurando um segredo
Como se fosse um queixume
Versos perdidos, de fado
Pobres sombras desmaiadas
Ficam juntas no pecado
Das mesmas horas paradas

A alma na noite morta
Na promessa dum desejo
Como parede sem porta
Ou boca que quer um beijo
É resto de madrugada
Pedaço de rima solta
Desespero em mão fechada
Ou esperança que já não volta

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