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Beth Carvalho: a eterna Madrinha do Samba

Biografias · Por Mauro Sérgio Lima

3 de Maio de 2019, às 16:00

No dia 30 de abril de 2019 o Brasil perdeu uma das maiores representantes de sua música popular. A cantora Beth Carvalho faleceu aos 72 anos, na cidade do Rio de Janeiro, devido a uma infecção generalizada. Conhecida por muitos nomes, a Madrinha do Samba deixou sua marca em mais de 50 anos de carreira e foi um expoente do gênero venerado pelo público e pelas críticas mundiais.

Cantora Beth Carvalho
Créditos: Divulgação

As músicas de Beth Carvalho fizeram história e, com certeza, continuarão a expressar a cultura brasileira para todos que ouvirem. A carreira e a vida da Diva dos Terreiros é grandiosa, e para lembrar dessa pessoa incrível, decidimos homenageá-la e a todos que já foram tocados por suas músicas.

Aproveite a oportunidade e conheça um pouco da história e das canções marcantes da Madrinha do Samba, Beth Carvalho.

Origens de uma das maiores sambistas do Brasil

Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no dia 5 de maio de 1946, no Rio de Janeiro. Aos oito anos de idade já se emocionava com canções clássicas brasileiras. Quando ganhou um violão de sua mãe, decidiu que queria ser artista.

Na década de 1960, após seu pai ser cassado pela Ditadura Militar, a garota, que já era íntima do instrumento de corda, foi dar aula de violão. Algum tempo depois, nos anos 70, a carioca da gema começou a fazer sucesso e estava destinada a se tornar um dos maiores nomes do samba. Seu primeiro disco de estúdio foi lançado em 1965, chamado Por Que Morrer de Amor?. Mesmo assim, foi somente com Andança, de 1969, que ela começou a ganhar notoriedade.

Cantora Beth Carvalho quando era jovem
A cantora Beth Carvalho quando jovem / Créditos: Divulgação

Dez anos após o lançamento de seu primeiro álbum de sucesso, Beth Carvalho se casou com Edson de Souza Barbosa, também conhecido como Edson Cegonha, ex-jogador de futebol. Torcedora ferrenha do Botafogo, a artista teve uma filha chamada Luana, que hoje atua e canta.

Beth se foi a seis dias de completar 73 anos e de comemorar a data com amigos em um espetáculo na casa de shows Vivo Rio, na cidade carioca. A influência dela é tão forte que nomes conhecidos e amados pelo público, como Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, continuam a reconhecer a força da música da Diva dos Terreiros em seus trabalhos. A presença de Beth será sentida por muitos anos e sua carreira é prova disso.

De Beth Carvalho para Madrinha do Samba: a carreira de um ícone

Durante todos os seus anos como cantora e compositora, a Rainha do Samba recebeu esse título por ter sido  alguém que fez história dentro do gênero. Além disso, ela revelou muitos talentos e passou a ser reconhecida como uma grande representante do samba e do pagode.

Cantora Beth Carvalho com cavaquinho  na mão
Créditos: Divulgação

De 1973 a 1988, Beth Carvalho lançou um álbum por ano e demonstrou ser incansável na sua missão de levar música para o Brasil e para o mundo. Nesse meio tempo, ela trouxe para o público uma colaboração com Nelson Cavaquinho e outra com ninguém menos que Cartola, outro ícone do nosso país. Com o primeiro, Beth gravou Folhas Secas; já com o segundo, nos apresentou As Rosas Não Falam. Os versos “Queixo-me às rosas, mas que bobagem/ As rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam/ O perfume que roubam de ti” fizeram o mundo cair de amores pelas composições do poeta brasileiro.

Em mais de 50 anos de carreira, Beth conseguiu seis indicações ao Grammy Latino e levou dois troféus, um por Melhor Álbum de Samba/ Pagode com Nosso Samba Tá Na Rua, de 2011, e também o prêmio de Conquista de Toda Uma Vida, em 2009, pelo conjunto de sua obra. Foi a primeira mulher sambista a receber essa honra da premiação.

Ela quebrou tantas barreiras que já se apresentou para 300 mil pessoas em um festival em Portugal e também foi nossa representante na Olimpíada Mundial da Canção, que aconteceu em Atenas. Além disso, seu nome é tão relevante que sua carreira foi adicionada ao currículo da Faculdade de Música de Kyoto, cidade japonesa. Beth nunca se apresentou no país, mas já vendeu milhares de álbuns nele.

Um dos seus momentos mais marcantes nos últimos anos de vida foi um show que a artista fez deitada, em 2018, no Rio de Janeiro. Mesmo com problemas derivados de uma doença na coluna, Beth não deixou de comemorar os 40 anos do álbum De Pé No Chão. Foi a primeira vez no mundo que uma cantora fez um show nesta posição por motivos de saúde.

A cantora Beth Carvalho fazendo um show deitada
Beth Carvalho no show que fez deitada por motivos de saúde / Créditos: Divulgação

Algumas músicas de Beth Carvalho

Para entender por completo a magnitude da Diva dos Terreiros, seria necessário ouvir toda sua discografia, além de suas apresentação avulsas. Contudo, para te ajudar, selecionamos oito músicas que te darão uma dimensão da arte de Beth Carvalho. Todas as canções abaixo fazem parte do ranking das mais tocadas, ou seja, o público, que sempre a amou, ditou suas interpretações mais icônicas. Veja abaixo:

Pedaço de Ilusão

Esse sucesso vem do álbum de 1981, Na Fonte. Como de costume, nesse registro Beth também apresenta nomes ainda novos para o grande público e dessa vez quem ganhou destaque foi o grupo Fundo de Quintal. Na música Pedaços de Ilusão, a artista canta uma poesia para um amor que ela mais deseja do que realmente tem.

Camarão Que Dorme a Onda Leva, com Zeca Pagodinho

De 1983, do álbum Suor no Rosto, a segunda música que apresentamos é Camarão que Dorme a Onda Leva, com a participação de Zeca Pagodinho. O artista foi um dos agraciados com o ouvido atento de Beth e, por causa dela, ganhou notoriedade. No velório da Madrinha, ele disse que só virou quem é por causa dela, já que antes se considerava apenas um compositor.

Eu Só Peço a Deus (Solo Le Pido a Dios), com Mercedes Sosa

Eu Só Peço a Deus é uma canção do álbum Beth, de 1986, mas a versão que apresentamos está presente em Beth Carvalho e Amigos, disco de 2005, que conta com a participação de Mercedes Sosa. A cantora argentina se juntou à brasileira para cantar uma música de suplício individual e social.

Os versos “Eu só peço a Deus/ Que a injustiça não me seja indiferente/ Pois não posso dar a outra face/ Se já fui machucado brutalmente” são uns dos que demonstram a força da canção.

O Que É, O Que É?

Talvez os versos “Eu fico com a pureza/ Da resposta das crianças/ É a vida, é bonita e é bonita” sejam um dos mais reconhecidos em todo o Brasil. A música O Que É, o Que É?, famosa na voz de Gonzaguinha, também tem uma interpretação da Rainha do Samba.

A letra, extremamente conhecida e amada, fala sobre o reconhecimento da vida: ainda que seja difícil, há beleza para ser sentida.

Água de Chuva No Mar

Com sua voz forte e ainda assim doce, Beth conseguia cantar desde músicas que exigiam uma interpretação vigorosa até aquelas que são pintadas para transmitirem o amor. Esse último caso acontece em Água de Chuva No Mar.

Nessa canção, a artista fala da sensação de ter encontrado a pessoa certa. Para isso, ela utiliza uma metáfora da natureza e pela analogia do encontro das águas consegue nos passar como é a relação com o ser amado.

Tristeza

Tristeza é um samba de duas estrofes que traz Beth pedindo que o sentimento vá embora para que ela possa cantar de novo. Em sua simplicidade lírica, essa música traduz muito bem o sentimento que alguns artistas têm com relação ao samba. A alegria do gênero faz parte do seu DNA e por isso, às vezes, é importante frisar “Quero voltar àquela vida de alegria/ Quero de novo cantar”.

Vou Festejar

Uma representante da sua primeira década de sucessos, Vou Festejar está presente no álbum De Pé No Chão, de 1978. Se pelo nome você não reconhece, os versos iniciais são inconfundíveis e talvez só não sejam mais icônicos do que o refrão, “Você pagou com traição/ A quem sempre lhe deu a mão”. Em uma roda de samba, ou mesmo em qualquer outro tipo de evento, colocar essa música é garantia de diversão e muita cantoria a plenos pulmões.

Andança

Se já conhecia Andança, provavelmente estranhou que ela ainda não havia aparecido na nossa lista. A verdade é que deixamos o que talvez foi o maior sucesso de Beth Carvalho ao final para fechar com chave de ouro. A produção está presente no primeiro disco da sambista, de 1969, que leva o mesmo nome.

A música ficou em terceiro lugar no Festival Internacional da Canção do ano de 1968 e foi a responsável por catapultar o nome de Beth para todo o país. A letra é sobre um andarilho que se apaixona durante seu caminho e traz um contracanto extremamente conquistador.

Há diversas partes que são perfeitas para dividir o canto com quem você ama, como “No passo da estrada, só faço andar (me leva, amor)/ Tenho meu amor pra me acompanhar (amor)/ Vim de longe léguas, cantando, eu vim (me leva, amor)/ Vou, não faço tréguas, sou mesmo assim/ (Por onde, for quero ser seu par)”.

A Rainha do Samba estará para sempre na música brasileira e na vida das pessoas que foram ou ainda serão tocadas pelas melodias de suas canções. Para homenageá-la, selecionamos 30 músicas que marcaram sua carreira. Ouça agora!

Banner da playlist Beth Carvalho em 30 músicas