Num Papel Guardanapo
Gustavito
Eu comecei a cantar minha canção do meio
Comendo pão sem recheio
Ela era onça e cutucou com a vara curta o meu lado
E eu me debatia todo, será que isso é pecado
Eu me contorço, eu sou bem moço
Eu tenho muito pra ver eu não me posso morrer
O dia a dia do diabo
A correria do quiabo
Minha mulher me pôs um rabo
No meu Natal desempregado
Mas te dizia meu medo era de ter dinheiro
Gastava tudo num cheiro
Vou te contar que tudo foi desenrolado errado
E eu me confundia todo, será que eu fui mal-criado
Tinha mulher e geladeira perdi tudo em janeiro
E me mudei pro buraco
Deitei miséria festeira
Eu fui catar poeira
Virei cavalo dado
Dourado, tristeza, ah nem!
Bebi do sangue até dizer amém!
E num papel guardanapo
Onde foi anotado
Um telefone e um recado
Batom salgado deixa a marca
De um beijo vermelho
Será que foi mal olhado
A minha vida não vinga
Eu tomo pinga, eu me tropeço
Eu me confundo no espelho
Eu não me posso morrer
A fantasia do diabo
Meu quibe frito mal passado
Eu de mulher me fiz dobrado
Em fevereiro eu sou passado
Como dizia meu pai pra não faltar angú
Tem que ralar no fubá
Vou te contar que eu trabalhava
De domingo a domingo
E me faltava um sorriso
Noite de Lua é tão lindo, faz de conta
Que meu bolso não é mais tão liso
E o nosso céu é azul
Deitei miséria festeira
Eu fui catar poeira
Virei cavalo dado
Dourado, tristeza, ah nem!
Bebi do sangue até dizer amém!
E pra moral dessa história desmoralizada
É uma mentira danada
Não tenho pai, não trabalhei
Eu nunca tive mulher muito menos geladeira
No papel guardanapo não tem beijo nem recado
Se nem mesmo eu existo eu já não posso morrer
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