Faça login para habilitar sua assinatura e dê adeus aos anúncios

Fazer login

Woman In Chains: o significado do hino feminista do Tears For Fears

Analisando letras · Por Érika Freire

14 de Setembro de 2021, às 12:00

Lançada em 1989 como o segundo single do álbum The Seeds of Love, Woman In Chains, do Tears For Fears, é aquele tipo de música que nos deixa arrepiados. 

Composta por Roland Orzabal, um dos fundadores do duo britânico ao lado de Curt Smith, Woman In Chains conta com a participação da belíssima voz da cantora soul Oleta Adams. 

Tears For Fears
Créditos: Divulgação

E as participações especiais não param por aí: tem ainda Phil Collins na bateria e Pino Palladino no baixo. A música se tornou um verdadeiro fenômeno no final dos anos 80, perdurando o sucesso por toda década de 90. 

Além da melodia marcante, o dueto de vozes de Oleta e Roland dão o primor à canção, inspirada no relacionamento abusivo vivido pela mãe do vocalista

Woman In Chains é uma obra de arte em prol da libertação feminina e o significado desse hino a gente confere a seguir!

Significado de Woman In Chains

Woman In Chains, a música mais conhecida do Tears For Fears, tem um significado forte e aborda um tema delicado, e que infelizmente é muito comum na vida das mulheres.

A letra fala sobre relacionamentos abusivos, sendo interpretada como uma denúncia contra o machismo e a sociedade patriarcal que oprime as mulheres.

Ao que tudo indica, o vocalista Roland Orzabal se inspirou na história de abuso vivida por sua mãe. O pai de Roland a tratava de forma ríspida, era agressivo e isso é mostrado um pouco no videoclipe de Woman In Chains, estrelado por um casal em conflito. 

O homem é um lutador de boxe e a mulher uma dançarina, fato este também inspirado na mãe de Roland.

Roland Orzabal
Roland Orzabal / Créditos: Divulgação

Filmado em preto e branco, o clipe consegue transmitir a reação de conflito vivida pelo marido, que parece se sentir desconfortável com a profissão da esposa.

Roland chegou a explicar, durante entrevista, que a ideia era falar sobre a opressão vivida pelas mulheres, que acabam sendo acorrentadas sem ter o direito de se expressar, de viver de forma mais livre. 

Ele quis mostrar ainda a própria dificuldade dos homens em lidar com as mulheres simplesmente por não conseguirem trabalhar o seu lado feminino. 

Acabam se tornando tóxicos, altamente nocivos às mulheres por adotarem atitudes repressoras, violentas, tanto física quanto verbalmente. 

Muitos acreditam que a mulher deve simplesmente obedecer, como o personagem diz nos primeiros versos da música:

You better love loving and you better behave (É melhor gostar de amar e é melhor se comportar)
Woman in chains (Mulher acorrentada)

Roland escreve como se fosse o personagem masculino colocando as cartas na mesa para sua esposa. Como uma mulher acorrentada, cabe a ela gostar de fazer amor e deve se comportar. Mais machista e tóxico, impossível. 

“Só estou aqui para seu entretenimento”

Calls her man (Ela chama seu homem)
The Great White Hope (De A Grande Esperança Branca)
Says she’s fine (Ela diz que está bem)
She’ll always cope (Ela sempre superará)

Observamos a personagem e a sua postura de resiliência, muito frequente em mulheres que vivem relacionamentos tóxicos.

Elas costumam acreditar que estão diante de um homem especial que apresenta, de vez em quando, comportamentos esquisitos, e que com o tempo eles vão mudar.

Por isso se colocam em um lugar de que precisam superar isso, pois o amor é feito de fases ruins e boas, é questão de paciência. 

Well, I feel lying and waiting (Bem, eu sinto que sentar e esperar)
Is a poor man’s deal (É o lance de um homem pobre)
And I feel hopelessly weighed down (E me sinto desesperadamente oprimido)
By your eyes of steel (Pelos seus olhos de aço)
Well, it’s a world gone crazy (Bem, é um mundo enlouquecido)
Keeps woman in chains (Que mantém a mulher acorrentada)

Nesta estrofe, ela revela que se sente desconfortável pelo jeito que ele a olha. Começa a elucidar que esse tratamento rude é um problema estrutural da sociedade, que oprime e trata a mulher como se fosse inferior aos homens. 

Well, I feel deep in your heart (Bem, eu sinto que no fundo do seu coração)
There are wounds time can’t heal (Existem feridas que o tempo não pode curar)
And I feel somebody, somewhere (E eu sinto que alguém, em algum lugar)
Is trying to breathe (Está tentando respirar)

Dentro de uma relação abusiva, a mulher vive uma verdadeira tragédia e mesmo quando ela se dá conta que o cara não vai mudar, as feridas já estão muito profundas e levarão um bom tempo.

Algumas marcas ficam pra sempre e caberá a mulher encontrar maneiras de ressignificar a experiência negativa. 

Mesmo partindo de uma experiência particular, vivida pela mãe, o compositor sabe que se trata de um problema presente na vida de muitas mulheres. 

It’s under my skin, but out of my hands (Está sob minha pele, mas fora do meu controle)
I’ll tear it apart but I won’t understand (Vou destruí-lo, mas não vou entender)
I will not accept the greatness of man (Eu não aceitarei a grandeza do homem)

Nos versos finais, ela se dá conta que é inútil tentar entender o motivo do companheiro agir desse jeito. Mesmo assim, ela não aceita que um homem deve ser visto como mais grandioso.

No clipe, tem uma cena em que a personagem acolhe o abusador por compreender a sua própria incapacidade de amar a si mesmo e muito menos ao próximo. 

Letra serviu de aprendizado para o próprio compositor 

Em 1990, Roland Orzabal concedeu uma entrevista para o jornal Washington Post e declarou que na época em que escreveu Woman In Chains estava lendo algo de literatura feminista.

Ele aprendeu que existem algumas sociedades onde os homens não detém o poder, e sim as mulheres que são colocadas no centro. Isso torna a sociedade menos violenta. 

A letra também quis mostrar que a maioria dos homens ignoram que há um lado feminino neles e que precisa ser trabalhado. 

“Quando canto ‘Woman in Chains’, canto sobre a opressão das mulheres em todo o mundo, mas também canto sobre a repressão da anima feminina dentro de mim”

Curiosidades 

A dupla do Tears for Fears, Roland Orzabal e Curt Smith convidaram Oleta Adams, pois ficaram fascinados com a sua voz e talento após assistirem um show da cantora, em Kansas City. 

Eles acabaram sendo influenciados pelo poder que Oleta tem de emocionar. Compreenderam que estavam compondo muito pautados pela complexidade, isso impedia que a expressão aparecesse naturalmente.

Oleta Adams
Créditos: Divulgação

Outra curiosidade é sobre o clipe de Woman in Chains. Lembra que a gente contou lá em cima que o Phil Collins participou da música tocando bateria? Pois é, mas no clipe quem aparece na batera é Chris Hughes. 

Phil Collins não pode aparecer por questões de contrato com a Virgin, que na época detinha o seu direito de imagem. 

Conheça 10 músicas inspiradas em histórias reais 

Gostou de relembrar esse clássico que fala sobre as feridas e batalhas femininas por conta do comportamento machista da sociedade? 

Assim como Woman in Chains, há outras diversas músicas inspiradas em histórias reais e cheias de significado. Vem conhecer algumas delas!  

Músicas inspiradas em histórias reais

Continue lendo análises musicais: