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Fazer loginEm 2022, a Unidos do Viradouro terminou em terceiro lugar no Carnaval carioca. Pelo terceiro ano consecutivo, a escola de Niterói ficou no top 3, e o samba-enredo da Viradouro para 2023 mostra que a escola promete subir ainda mais o padrão.
Neste ano, a vermelha e branco vai encerrar os desfiles do grupo especial, voltando a trazer um enredo centrado em uma figura feminina.
Em 2022 a escola inovou ao trazer uma carta do personagem Pierrot, como uma declaração de amor ao Carnaval. Em 2023, mais uma vez, a Viradouro inova, agora contando a história de uma figura real, extremamente importante, esquecida na memória do povo brasileiro.
E aí, pronto para descobrir a história por trás do samba da Viradouro? Vem conferir a história e a análise completa da letra!
O samba-enredo vencedor, que vai guiar o desfile da Viradouro em 2023, é fruto de uma parceria de Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco, Thiago Meiners, El Toro, Luis Anderson e Jefferson Oliveira.
A música conta a história de Rosa Courana, ou Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Ela é autora do livro Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, do qual restaram poucas páginas.
Hora de analisar a letra do samba-enredo da Viradouro para 2023!
Rosa Maria, menina flor
Rainha do espelho mar
Na pele do tambor
Pranto das dores que resistiu
Deságua no imenso Brasil
Sua luz incorporou
A letra começa com uma referência à forma como Rosa Maria veio para o Brasil: pelo mar.
Rosa nasceu na Costa de Ajudá ou Uidá, na África Ocidental, onde atualmente é a República de Benin. Ela foi capturada por traficantes e trazida para o Brasil quando tinha apenas seis anos de idade.
Desembarcou em São Sebastião, no Rio de Janeiro, onde foi mantida em cativeiro por anos até ser levada para Minas Gerais. Lá, foi escravizada, prostituída e torturada.
Resistindo a tantas dores e, apesar de não ter nascido aqui, ela acabou por se tornar uma figura importante na história dos povos escravizados no Brasil.
Distante me encontro das origens
Caminho onde o corpo foi prisão
Ouro que deixou as cicatrizes
Esperança foi vertigem
A alma, libertação
Rosa Maria viveu longe de casa, foi afastada de suas origens para ser escravizada. Ela passou a maior parte da vida em Minas Gerais, onde reinava a exploração do ouro.
Por volta dos 30 anos de idade, depois de ficar doente, Rosa começou a ter visões místicas, conquistando a fama de beata na igreja católica. A partir daí, se o corpo escravizado era para ela uma prisão, ela encontrou no misticismo da alma uma forma de se libertar.
É vento na saia da preta courá
Na ginga do Acotundá
É ventania
Sete vozes guiaram minhas visões
Mistério, alucinações, feitiçaria
“Preta courá” é uma referência ao povo courá, do qual Rosa fazia parte — por isso o nome “Rosa Courana”. O nome courá era utilizado pelos traficantes para denominar os originários do Reino de Uidá.
Já o Acotundá é um ritual de culto praticado pelo povo courá, que a igreja católica via como adoração a um deus pagão.
Apesar da aproximação com os jesuítas e com a religião católica, Rosa Maria manteve algumas tradições e rituais de seu povo, algo muito comum na época e que caracterizava o sincretismo religioso.
Porém, isso fez com que ela recebesse o título de feiticeira, com acusações de bruxaria, ganhando o ódio da Inquisição.
Me entrego a escrever a predição
Lágrima nas contas do rosário
Dádiva ao clamor do coração
Palavras de um preto relicário
A voz que cobre o cruzeiro
Reluz sobre nós no fim do calvário
Navega esperança à luz do encantado
Reflete o azul
Rosa Maria escolheu a escrita como forma de manifestar a fé. Em certo ponto da vida, ela se livrou dos poucos bens que tinha e passou a seguir uma vida de devoção religiosa.
Foi quando escreveu a Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas. Infelizmente, a obra foi julgada pelo Tribunal da Inquisição e boa parte do livro foi destruída.
Hoje o que se tem do pensamento da beata vem das poucas páginas restantes, e de algumas cartas escritas por ela, que revelam sua atuação como fundadora de uma congregação religiosa feminina negra.
Senti a alma daqueles, os mais oprimidos
Venci heresia na fé dos divinos
A mais bela rosa aos pés do senhor
Candombes e batuques no cortejo
Eu sou a santa que o povo aclamou
Apesar da “heresia na fé dos divinos”, ou seja, a hipocrisia e crueldade dos que se diziam religiosos, mas que a julgaram de forma cruel, Rosa Maria se consagrou como santa entre o povo.
O sobrenome pelo qual é conhecida foi escolhido por ela em referência à Santa Maria Egipcíaca, ou Maria do Egito, uma santa de origem africana, que também é conhecida por ter tido uma história de prostituição.
Já o “Vera Cruz” é uma referência à Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado pelos português ao que viria a ser o Brasil.
Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Sou Rosa Maria, imagem de Deus
Depois de tantos anos no esquecimento, Rosa Maria volta à memória por meio do samba da Viradouro. Ela é símbolo de resistência feminina e negra, uma figura importante para lembrar o sofrimento dos escravizados no Brasil.
Como o encerramento da música diz: a imagem de Deus, como sinônimo de amor e fé.
É essa a figura que será tema central do desfile da Viradouro em 2023. A escola entra na Sapucaí no dia 20 de fevereiro, encerrando os desfiles do grupo especial.
Assim como no samba-enredo de 2023, a Viradouro também trabalhou com a história no ano passado.
Em 2022, a escola explorou os personagens mais clássicos do teatro: Arlequim, Pierrot e Colombina. Vem conferir também a análise do samba-enredo da Viradouro 2022: uma declaração de amor ao Carnaval!
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