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Fazer loginNão há como falar dos grandes cantores da música brasileira sem ao menos citar Chico Buarque. Uma das grandes vozes da MPB, o artista tem uma extensa discografia, sendo autor de músicas que já fazem parte do imaginário popular nacional.
Ao crescer em meio a cultura, Chico desenvolveu a capacidade de escrever canções poéticas que ao mesmo tempo que mexem com as emoções, são retratos de cada época, principalmente quando se trata do período da Ditadura Militar.
Afinal, foi nesse momento que Chico começou sua carreira e se juntou a outros artistas para protestar e compor suas canções. Hoje vamos falar sobre uma delas que trás um contexto bastante interessante.
Vem com a gente e acompanhe a análise da música Sabiá, de Chico Buarque.
Ao longo de sua carreira, Chico Buarque é visto como um artista genial, que sabe brincar e usar as palavras para expressar seus sentimentos e também abordar temas sociais latentes dos momentos que vivenciou.
Conheça a história de Construção, do Chico Buarque
Autor de diversas canções de protesto, o artista põe a delicadeza em seus versos para construir melodias e músicas únicas, como Sabiá.
Escrita em 1968, a composição tem em sua essência a carência e o saudosismo, que em seus mínimos detalhes deixa seu recado, ao mostrar como o Brasil se tornava um país vazio de esperanças.
Mas é evidente que essa percepção realista teve uma fonte de inspiração.
A ave que praticamente é um símbolo popular ganhou esse status a partir da Canção do Exílio, poesia romântica de Gonçalves Dias que logo virou uma representação do saudosismo patriótico.
A temática mencionada na letra de Sabiá rendeu análises e comparações com os versos originais, que levaram a música a ser chamada de nova versão de Canção do Exílio.
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Embora ainda não estivesse vivendo seu período de exílio, por conta da perseguição da censura militar, Chico apresenta na música alusões ao desejo de viver em um país democrático e sem repressões.
E algum amor talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia
A referência à noite e dia mostra uma metáfora clara sobre escuridão e luz.
O período sombrio e clima de instabilidade causados pelo governo militar tornaram as lutas básicas em algo complicado e arriscado para os jovens que se opunham aos métodos utilizados por quem ocupava o poder.
No entanto, o cantor mantinha viva a chama de esperança de anunciar um vislumbre do dia, da possibilidade de expressar as suas opiniões sem ser calado ou julgado, podendo apreciar a vida em seu país natal.
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Nas estrofes, Chico não deixa de comparar suavemente a situação do país com as dificuldades pessoais que precisou enfrentar, mas de alguma forma não conseguiu.
No entanto, há um espírito de resiliência e de desejo de lutar contra a sensação de abandono na própria terra.
Mesmo sendo singela e poética, a música Sabiá tem episódios interessantes que datam da época de seu lançamento.
Após compor a primeira versão da música, Chico apresentou a letra a Tom Jobim, que achou a canção curta demais.
Diante dessa conclusão, Tom acrescentou alguns versos à composição, que chegou a ser gravada em estúdio.
No entanto, a versão final que foi ao público não contava mais as linhas escritas pelo maestro, o que causou estranheza.
Chico declarou em entrevista que realmente o novo trecho com as partes Que a nova vida já vai chegar e/ou que a solidão vai se acabar teve sua versão, no entanto, a preferência foi continuar com a original, sem dar maiores explicações sobre o ocorrido.
Outro fato registrado foi a discussão sobre o gênero do pássaro. Chico adotou o artigo feminino para se referir à ave, enquanto Jobim defendia a versão de “o sabiá”.
Em seus argumentos, Chico relutou com a mudança proposta, afirmando que dizer “a sabiá” era mais adequado, pois inclusive era uma linguagem utilizada pelos caçadores. Mais uma vez, a vitória foi do autor da letra.
Algo frequente nos anos 60 eram os festivais musicais, que mesmo sofrendo gestos de censura, eram uma forma de resistência da classe artística.
No ano de 1968, a música Sabiá participou da terceira edição do Festival Internacional da Canção, e foi interpretada por Cynara e Cybele, concorrendo ao prêmio principal da noite.
No entanto, desde o momento de sua apresentação, ela não foi bem recebida pelo público. As vaias tomaram conta do Maracanãzinho e um dos motivos é que ela era amena demais e não mostrava o real cenário vivido e era vista até como uma alienação, mesmo tendo uma mensagem oculta.
Uma das principais razões também era a favorita da noite. A enigmática Para Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, um verdadeiro hino contra a repressão e violência da ditadura.
Apesar da torcida do público, Sabiá conquistou a maior vitória da noite, o que se tornou alvo de protestos. O irônico é que depois Chico seria um dos artistas mais perseguidos por suas canções contestadoras e libertárias.
Gostou de conferir a análise de Sabiá, do Chico Buarque?
Continue apreciando o talento do cantor conferindo as melhores frases de Chico Buarque para compartilhar.
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