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Entenda a polêmica do hino do Rio Grande do Sul

Analisando letras · Por Renata Arruda

9 de Janeiro de 2021, às 12:00

O hino do Rio Grande do Sul virou motivo de polêmica: o grupo de vereadores da primeira bancada negra do município permaneceu sentado durante a execução do cântico, na cerimônia de posse da Câmara de Porto Alegre, no dia 01 de janeiro.

Bandeira do Rio Grande do Sul / Créditos: Divulgação

O motivo é que a letra traz os versos Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo, considerados racistas. Segundo os parlamentares, o trecho é uma afirmação de que o povo negro foi escravizado por não ter virtudes.

Dessa forma, eles não se sentiram na obrigação de cantar o hino durante o evento, o que foi considerado por alguns dos presentes como uma atitude desrespeitosa. Vem entender melhor a polêmica do hino do Rio Grande do Sul.

A polêmica do hino do Rio Grande do Sul

Como adiantamos, durante a cerimônia de posse do Legislativo municipal, os cinco vereadores do PSOL que compõem a bancada negra decidiram fazer um protesto silencioso durante a execução do hino Rio-grandense.

Vereador Matheus Gomes / Créditos: Ederson Nunes / CMPA

Eles decidiram que não se levantariam, por entenderem que a letra contém um trecho racista. O ato desagradou à vereadora Comandante Nádia, que pediu a palavra para declarar que o avanço de uma nação passa também pelo respeito aos símbolos.

Em resposta, o vereador Matheus Gomes, que é historiador, entrou com uma questão de ordem e explicou que:

Como bancada negra pela primeira vez na história da Câmara de Vereadores, talvez a maioria dos que já exerceram outros mandatos não estejam acostumados com a nossa presença. Não temos obrigação nenhuma de estar cantando o verso que diz que o nosso povo não tem virtude, por isso foi escravizado.

Já o Movimento Tradicionalista Gaúcho se manifestou em nota, afirmando que o trecho diz respeito à submissão da então província de São Pedro ao Império, no período da Revolução Farroupilha. E nada tem de discriminatória.

As três versões do hino do Rio Grande do Sul

O hino do Rio Grande do Sul surgiu durante os anos de Revolução Farroupilha (1835-1845). A letra da primeira versão foi composta pelo tenente-coronel Serafim Joaquim de Alencastre e executada pela primeira vez em 1838.

Uma segunda versão, de autoria até então desconhecida, se popularizou em 1839 como o Hino Farroupilha, após ter sido publicada pelo jornal oficial da República Rio-Grandense, O Povo.

Já a versão atual foi composta pelo militar e poeta Francisco Pinto da Fontoura, conhecido como Chiquinho da Vovó, pouco antes do fim da revolução. Em 1934, foi escolhida pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul como a versão oficial, em comemoração aos cem anos do evento.

O maestro negro 

O que muita gente não sabe é que a música que acompanha o hino foi composta pelo maestro Joaquim José de Mendanha, um homem negro de família cativa. Ele, que apoiava as forças imperiais, foi capturado pelos farroupilhas com sua banda em 1838.

Joaquim José de Mendanha
Joaquim José de Mendanha / Créditos: Divulgação

Como era prisioneiro de guerra, foi exigido que o maestro compusesse uma melodia para o que seria o hino da nova República Rio-Grandense. Até hoje é a música de Mendanha que acompanha o hino.

Letra modificada nos anos 60

Embora a atual versão do hino tenha sido aprovada em 1934, ela foi oficializada somente em 1966. Na época, o deputado Getúlio Marcantonio pediu que uma estrofe fosse excluída, que dizia:

Entre nós reviva Atenas
Para assombro dos tiranos
Sejamos gregos na Glória
E, na virtude, romanos

O parlamentar justificou o pedido, dizendo que não tinha relação com o povo gaúcho, o que foi acatado pela Assembleia Legislativa.

Análise do hino do Rio Grande do Sul

O atual hino do Rio Grande Sul procura exaltar a Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos, que durou de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845. A data é comemorada na letra:

Como a aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade

O conflito foi liderado por revolucionários que desejavam a independência de uma república e louvavam valores como a coragem e a liberdade — uma liberdade que não se estendia aos negros, uma vez que os líderes eram defensores da escravidão.

Guerra dos Farrapos
Guerra dos Farrapos / Créditos: Divulgação

Mas não basta, pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

Durante a guerra, centenas de negros escravizados foram convencidos a lutar junto aos farroupilhas, sendo incorporados à divisão dos Lanceiros Negros, com a promessa de conquistarem a liberdade quando o conflito chegasse ao fim.

No entanto, eles foram assassinados na emboscada conhecida como Massacre de Porongos e os que sobreviveram foram vendidos como escravos no Rio de Janeiro. Assim, a interpretação da estrofe acima como um trecho racista é possível.

Massacre dos Porongos
Massacre dos Porongos / Créditos: Divulgação

Afinal, apenas os negros eram escravizados na época. Isso nos leva a concluir que de nada adiantou a força e a bravura dos soldados negros, uma vez que eles eram vistos como um povo sem virtude, que poderia ser feito de escravo.

Hino da Bandeira

Agora que você entendeu a polêmica do hino do Rio Grande do Sul, aproveita e vem descobrir o significado do Hino da Bandeira!

hino da bandeira

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