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Fazer loginCom mais de 40 anos de presença no Brasil, o rap é um estilo que nunca parou de crescer e evoluir.
Conhecido por letras que expõem questões sociais e a presença de batidas marcantes, o gênero vem se reinventando diariamente para abordar questões atuais sem perder a relevância num cenário musical tão intenso e diverso como o brasileiro.
Muito além de cantores já renomados na cena do rap brasileiro, como Projota, Emicida e Criolo, novos rostos surgem todos os dias. O poder de renovação que essa nova geração carrega não deixa de lado questões políticas e sociais e traz consigo uma musicalidade que não fazia parte do rap que os Racionais MC’s faziam, por exemplo.
Se isso torna a nova geração melhor ou pior não vem ao caso; são músicas com objetivos sociais diferentes, compostas e produzidas em um Brasil completamente diferente do de 20 ou 30 anos atrás.
A história do rap e do hip hop no Brasil começou nos anos 80 completamente influenciada pela ascensão do estilo nos Estados Unidos. Por aqui, o rap chegou como um estilo de vida que ia além da música; era sobre se identificar com pautas ligadas ao racismo, às desigualdades sociais, ao preconceito e à marginalização.
Hoje, mais de quarenta anos depois, o rap nacional já faz parte do cotidiano das paradas de sucesso. Olhando para trás, não é difícil entender que esse sucesso só é possível porque grandes nomes da cena da época, como Mano Brown, MV Bill e Sabotage, trabalharam arduamente para que vários tabus fossem quebrados e conceitos desmistificados.
É como se eles tivessem aberto o caminho que hoje a nova geração trilha com mais leveza, mas ainda com muita luta, já que um caminho árduo não é mais fácil só porque alguém já o percorreu outras vezes. Os desafios se renovam a cada nova questão social que surge ou a cada problema político que enfrentamos como sociedade.
O rap chegou no Brasil nos anos 80 e pegou o final da movimentação intensa que foi o Tropicalismo. Apesar de o movimento defender exaustivamente, durante toda a década de 70, que expressões culturais de outros países poderiam ser usadas sem que a música brasileira perdesse seu valor, o público não teve facilidade em aceitar a chegada do rap no Brasil.
Os primeiros artistas do estilo precisaram de muito jogo de cintura para que o rap brasileiro não fosse taxado como apenas uma cópia do que era feito no exterior.
Foi aí que o estilo ganhou características que o tornam único, como a mistura com estilos tipicamente brasileiros (como o sample de Cartola que Rappin’Hood usa em Zé Brasileiro) e a inspiração em acontecimentos reais (como Diário de Um Detento, inspirado no massacre do Carandiru em 1992).
O rap nacional é, portanto, uma mistura entre as referências internacionais que marcaram a individualidade do estilo e as referências nacionais, que vão desde as temáticas políticas e sociais do Brasil até a mistura da batida do grave (que marca a base musical do rap e do hip hop) com as melodias do samba, da MPB e do funk.
Uma das vozes da nova geração, Iza Sabino, contou um pouco sobre o que faz o rap brasileiro ser tão diferente e único: Eu acho que o que diferencia o rap nacional é a produção musical, os beats, o modo como são feitos os samples, a bateria, entre várias outras coisas, como as ideias. A nossa cultura, a nossa vivência tem uma diferença. Junta isso tudo e dá essa originalidade que tem o rap nacional. Eu acho bem massa o nosso jeito de ser, de viver e de falar da nossa realidade.
Apesar de a nova geração do rap não precisar ser tão combativa (ou de “lutar na linha de frente”, como Edi Rock afirmou nessa entrevista ao Estadão) quanto foi a geração que marcou os anos 90, os novos artistas fazem questão de não deixar pautas de ativismo social e de denúncia de lado.
Um grande exemplo disso é o mineiro Djonga, um dos maiores rappers do Brasil da atualidade. Sua produção é cheia de letras que passeiam entre a amargura, a raiva e a angústia com o que vive diariamente sendo um homem preto vindo da periferia e que se tornou uma pessoa pública.
Ao lado do parceiro Coyote Beatz, responsável pelo beat de todas as suas músicas, Djonga não tem medo do julgamento alheio e está determinado a assumir a responsabilidade de ser quem ele é.
Não é porque agora nós tem tudo que acha que a favela venceu, ele canta em Ea$y Money, e a frase diz muito sobre a carreira do rapper: ele chegou no topo, mas ele não quer estar lá sozinho.
O rapper apadrinha vários outros artistas mineiros do rap, como Kdu dos Anjos, que além de músico também é coordenador do centro cultural Lá da Favelinha, muito respeitado na capital mineira.
Kdu nos contou que começou no rap inicialmente por conta da facilidade com as palavras e mais tarde pela paixão pela cultura hip hop. Hoje ele é grato por fazer parte de uma cultura tão plural e seu último lançamento, Ciganinha, mostra como o seu rap está inserido nessa cena tão diversa.
Outra voz em ascensão é a rapper mineira Mayí, que recentemente lançou o single Reai$.
Ela explica quais foram suas motivações para se aventurar no rap: A sede de ser ouvida, de ter o poder de fala por mim e por pessoas que passaram por situações similares ou piores que a minha vivência. O fato de poder ser espelho de vitória para muitas pessoas e a prosperidade que o conhecimento e atitude pode me trazer, sabemos que não é fácil, mas sim, eu prefiro morrer atirando do que me condicionar a ser uma subordinada.
Iza Sabino também é mineira e vem se destacando no rap nacional. Muito influenciada pelos Racionais MC’s, de quem o pai era muito fã, ela sempre foi incentivada a escutar com atenção para entender o que estava sendo falado por trás dessas canções.
A rapper afirma: Além de me identificar bastante com algumas músicas, [essa escuta] me fez despertar um sentimento pelo rap e pelo hip hop, e me ver, me enxergar, me sentir representada dentro disso. Foi isso que me fez querer fazer parte disso tudo.
Além da grande relevância de Minas Gerais na cena do rap nacional, o Rio de Janeiro também trouxe nomes importantes para o movimento. Filipe Ret, por exemplo, defende que o rap é uma música viva e questionadora, que acompanha as mudanças do mundo, mas sem esquecer das questões da vida, que permeiam a existência de qualquer pessoa.
Xamã também é carioca e suas canções refletem bem as novas tendências do rap nacional, com liberdade de pensamento e motivação para lutar pelo que acredita.
São Paulo, lugar em que o estilo desembarcou vindo diretamente da América do Norte lá nos anos 80, é um dos maiores centros musicais do Brasil.
Muitos artistas vão para lá em busca de trabalho. Foi o que aconteceu com Cynthia Luz, que se mudou para a cidade com apenas R$250 no bolso e o sonho de viver de música.
Rincon Sapiência também passou alguns perrengues. Ele cresceu no Cohab 1, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, e não tem vergonha de cantar sobre suas origens e adora misturar o funk com o rap. Já Jup do Bairro, também criada na capital paulista, aborda temas como representatividade e ativismo LGBTQIA+ em uma cena que ainda não tem tanta abertura para essas discussões.
Conhecer o passado para entender o presente é uma das partes mais importantes para quem curte conhecer todos os detalhes de um acontecimento. Para te ajudar, preparamos um artigo incrível sobre a história do rap para você ficar por dentro de tudo que rolou desde que o estilo desembarcou por aqui nos anos 90.
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