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Saiba o significado da música Meu Amigo Pedro, de Raul Seixas

Analisando letras · Por Renata Arruda

21 de Novembro de 2019, às 19:00

Considerado o pai do rock brasileiro, Raul Seixas deixou um legado musical que continua vivo até hoje. Um dos pontos que mais chama a atenção nas canções de Raul são as letras: com várias possibilidades de significado, elas geram discussões que dão pano pra manga!

Raul Seixas
Créditos: Divulgação

Por exemplo: você sabe o que significa a letra de Metamorfose Ambulante? Uma das faixas mais famosas do Maluco Beleza é, por si só, uma verdadeira metamorfose.

E o significado da música Meu Amigo Pedro, tem ideia de qual seja? É sobre ela que vamos falar hoje. Vem com a gente!

Significado da música Meu Amigo Pedro

Uma das faixas mais discutidas de Raul Seixas, Meu Amigo Pedro deixa a dúvida sobre quem seria o Pedro do título. Para alguns, se trataria do pai do escritor Paulo Coelho, co-autor da letra.

Outra versão diz que seria o irmão caçula do cantor, Plínio Seixas, que inclusive confirmou que ele era mesmo o Pedro. Há também quem diga que a canção seria de Raul para Paulo Coelho. 🤔

Com tantas interpretações, resolvemos fazer uma análise da letra para te ajudar a tirar suas próprias conclusões. Vamos nessa?

Análise da música Meu Amigo Pedro

Muitas vezes, Pedro, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro
É pena que você não sabe não

Raul começa a letra lamentando o quanto Pedro se queixa de estar sempre sozinho, sem se dar conta de que tem as ferramentas para mudar sua situação. 

No verso Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro, ele tenta mostrar que o amigo está muito focado em viver uma vida segura, trabalhando duro para se sustentar, mesmo que isso faça com que ele se sinta isolado. 

Porém, assim como ele é feito do ferro seguro, também é feito do fogo que arde. Ou seja, Pedro não percebe que poderia estar realizado se arriscasse mais e apostasse nas suas paixões.

Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro, as coisas não são bem assim

Pedro é uma pessoa que vive de maneira certinha e regrada, que cumpre com as suas obrigações exatamente como a sociedade espera dele. No entanto, ele não se questiona se isso é mesmo o que gostaria de estar fazendo.

Assim, quando a pressão começa a se tornar muito pesada, Pedro faz como muitas pessoas: sofre em silêncio, no cantinho, enquanto finge que está tudo bem na frente dos outros 🤷‍♀

Mas, para Raul, ele não precisa viver dessa maneira. Há outras possibilidades de vida.

Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você, meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno

Antes de continuar a análise da letra, é importante entender o seu contexto. A música foi escrita nos anos 70, época em que Raul fundou a Sociedade Alternativa ao lado de Paulo Coelho e viveu o auge dos excessos sob o lema sexo, drogas e rock and roll.

Raul Seixas e Paulo Coelho
Paulo Coelho e Raul Seixas / Créditos: Divulgação

Por isso, quando ele fala em sentir o paraíso ou queimar no inferno, quer dizer viver a vida sem limites, em toda a sua loucura. E lamenta que seu amigo Pedro não possa experimentar a mesma liberdade, já que está preso a uma vida convencional.

Pedro, onde cê vai eu também vou
Pedro, onde cê vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

Embora muita gente interprete este trecho como uma declaração de amizade, a versão mais provável é outra.

Aqui Raul faz uma referência ao verso bíblico tudo vem do pó e tudo volta ao pó. Ou seja, não importa se levamos uma vida certinha ou uma vida louca, no final, o futuro de todos é o mesmo: a morte. 😰

Dessa maneira, ele afirma que terminamos a vida da mesma forma que começamos, sozinhos e sem nada. Dá para concluir que a intenção do autor é questionar Pedro: se a vida tem um fim, então pra quê perder tempo seguindo as regras?

Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura

Nesta parte, Raul pede para Pedro convencê-lo de que sua maneira de viver é a melhor. Ele desafia o amigo a provar que encarar a vida de forma séria, como uma luta diária, vale mais a pena do que viver de modo desprendido, independente e cheio de emoções.

Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje, eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo

Este é um trecho nostálgico, que acaba de maneira agressiva. Mostrando a intimidade que os dois tinham no passado, ele fala dos planos e sonhos que faziam quando eram mais jovens. 

Mas, agora que se tornaram adultos e seguiram por caminhos diferentes, vem o conflito: um prefere ser maluco beleza, enquanto o outro é mais conservador. As diferenças entre eles viraram acusações de vagabundo e careta 🙄

Pedro, onde cê vai eu também vou
Pedro, onde cê vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou

No final, se é careta ou vagabundo não importa: estamos todos indo para o mesmo lugar, lembra?

Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos, tantas portas
Mas somente um tem coração

É exatamente essa a ideia que Raul reforça nessa estrofe. Seja uma vida certinha de glória ou uma vida louca de perdição, todas as maneiras de viver são válidas.

São muitas escolhas a se fazer e opções para experimentar, mas somente uma delas vai te fazer realmente feliz: aquela que o seu coração mandar. ❤

E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou

É aquilo: Raul não quer se meter na vida de Pedro. Se o amigo prefere seguir as regras, então que seja assim. Porém, ele pede que Pedro faça o mesmo e o deixe fazer o que tem vontade. 

Afinal, cada pessoa conhece a sua própria cruz e é responsável por si mesma. Como diz outro poeta, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. No fim, vamos todos morrer mesmo 😅

Pedro, onde cê vai eu também vou
Pedro, onde cê vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
É que tudo acaba onde começou

É isso: viva da maneira que achar melhor pra você. Mas lembre-se que da nossa vida não iremos levar nada. 

Raul Seixas: breve história do pai do rock

Ícone do rock brasileiro, Raul Seixas nasceu no dia 28 de junho de 1945, em Salvador. Vindo de uma família de classe média, Raul era amante dos livros e desde pequeno demonstrava desprezo por convenções e instituições.

Raul Seixas
Créditos: Divulgação

Cantor, compositor, produtor e músico versátil, Raul se mudou  para o Rio de Janeiro e, em 1968, lançou seu primeiro disco, Raulzito e Os Panteras.

O disco não agradou muita gente, e o músico voltou para Salvador, onde foi convidado por Evandro Ribeiro para ser produtor musical na CBS. Depois de se dar bem como produtor, Raul finalmente lançou o disco Krig-ha, Bandolo! e estourou com a faixa Ouro de Tolo

Influenciado por ideias ocultistas, em 1974 Raul fundou a Sociedade Alternativa ao lado de Paulo Coelho, de quem era parceiro.

Raul Seixas e Paulo Coelho
Raul Seixas e Paulo Coelho / Créditos: Divulgação

Considerado subversivo, o cantor foi exilado nos Estados Unidos, mas acabou retornando devido ao sucesso estrondoso do seu álbum recém-lançado, Gita.

Já nos anos 80, a carreira de Raul começou a sofrer alguns baques. Apresentando um quadro depressivo e tentando se curar do alcoolismo e do vício em drogas, ele acabou quebrando contratos com gravadoras e encontrou portas fechadas na indústria.

O artista faleceu em agosto de 1989, mas mesmo após sua morte, continuou fazendo sucesso e suas músicas influenciam gerações até hoje.

Toca Raul!

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