Entenda o samba-enredo da Mancha Verde, campeã do Carnaval de São Paulo em 2022

O samba-enredo é uma ótima forma para falar sobre temas sociais que são importantes para a sociedade no geral. A Mancha Verde seguiu esse pensamento ao criar a letra de Planeta Água, o samba-enredo escolhido para 2022.

Como o próprio nome já dá a entender, a música fala sobre a água, um recurso fundamental para a sobrevivência de toda a humanidade, mas que tem diminuído rapidamente e causa preocupação.

No samba-enredo da Mancha Verde, os versos se unem em forma de denúncia para alertar a população sobre o caminho que estamos seguindo.

No entanto, a letra vai bem mais fundo e foi por isso que preparamos uma análise super especial para entender todos os pontos retratados. Continue lendo para entender melhor a escolha do samba-enredo da Mancha Verde, campeã do Carnaval 2022!

Análise do samba-enredo da Mancha Verde 2022

Em Planeta Água, vemos um clamor dos sambistas para que o universo e suas forças divinas tenham misericórdia da população e não nos deixe faltar um dos nossos bens mais preciosos. 

É importante lembrar que a Mancha Verde já levantou a questão da consciência com a natureza no samba-enredo de 2020, de forma mais breve, mas agora aprofunda ainda mais a temática.

A música já começa assim:

Oh mãe

Eu vejo a vida refletir em teu espelho

Vim pedir os teus conselhos

Pra alma lavar

Em prece, deixei o meu pranto

Para o Deus Sol quarar

Eu pedi que o céu levasse

Esperança pro sertão, acordes de viola

Pra colher a plantação

Luz dos olhos doces de sereia

Encontra o balanço da maré

Revela o encanto

Estende seu manto num canto de fé!

Como dá para perceber, o samba-enredo da Mancha Verde de 2022 cria a estrutura de um diálogo em que uma pessoa parece estar conversando com uma figura divina.

Ela está se sentindo perdida, sem saber o que fazer e tomada pela frustração, por isso vai em busca de conselhos de quem realmente pode ajudá-la.

Em suas preces, ela menciona o sertão, que é comumente esquecido pelo eixo sul-sudeste. Ver essa representatividade em uma grande escola de samba é essencial para conscientizar sobre as diferentes partes do Brasil.

No final da primeira estrofe, a composição alcança um ponto de muita força, já que distribui uma sequência de lindos versos: Luz dos olhos doces de sereia, encontra o balanço da maré; revela o encanto, estende seu manto num canto de fé!

Isso nos prepara para a estrofe seguinte, quando nos deparamos com a imagem de Iemanjá, a orixá das águas.

Iemanjá! Iê-Iemanjá!

Rainha das ondas, senhora do mar!

Iemanjá! Iê-Iemanjá!

No azul dos teus mistérios eu também quero morar

É uma forma sutil e direta de mostrar o efeito de comunicação entre o plano físico e o plano espiritual. A pessoa que clama está tentando entrar em contato com Iemanjá para que a divindade possa escutá-la e atender suas preces.

Após o refrão, seguimos para mais uma estrofe de versos de tirar o fôlego:

Nem tudo que deságua é tempestade

Nem todo choro é saudade

Vejo o mundo em outras cores

Lágrimas que encharcam esse chão

Fertilizam a semente

Sob as nuvens de algodão

Ciclo da vida move moinhos

Tantos caminhos pra um dia voltar

São diferentes formas de associação da água, o tema central do samba-enredo da Mancha Verde: tempestade, choro, lágrimas, nuvens de algodão e até mesmo ciclo da vida, já que a água é fundamental para a sobrevivência na Terra do começo ao fim.

Já o verso final é mais amplo, dando várias possibilidades de interpretação. Tantos caminhos para um dia voltar lembra o fluxo de uma fonte de água que pode se espalhar e desaguar de várias formas diferentes, representando os caminhos que podemos seguir na vida.

Além disso, para quem acredita na vida após a morte, a ideia de voltar também pode remeter à reencarnação, já que traz muitas possibilidades de sair do plano espiritual e nascer novamente.

Com isso, partimos para a penúltima estrofe. São apenas três versos, mas que carregam um grande peso e complementam a ideia de clamor que vimos anteriormente:

À terra, deixando um clamor pra humanidade

A nobre missão de preservar

Nosso futuro, nosso lar!

Os versos são bem diretos e falam diretamente com a humanidade. Dessa vez, ao invés de se direcionar à divindade enquanto clama por intervenção, o narrador reconhece que todos nós temos o potencial de fazer algo em prol da nossa própria sobrevivência.

Se não cuidarmos do nosso lar, são as próximas gerações de famílias e amigos que sofrerão as consequências de nossos atos.

Agora a conclusão ideal para um samba-enredo tão poético e direto ao mesmo tempo, algo que a Mancha Verde foi capaz de executar perfeitamente no ano de 2022:

Água de benzer, purificar

Água da fonte do rio que corre pro mar

Planeta água, nascente da vida

Sou Mancha Verde e mato a sede na avenida

Novamente é possível ver o uso da água em suas diferentes formas e funções, desde o lado espiritual até o natural, o simples fluxo do rio para o mar.

É nessa simplicidade que vemos a grandeza da água: mesmo que acabe passando despercebida no nosso dia a dia, é ela quem se desdobra em múltiplas funções e nos mantém vivos diariamente, além de permitir o crescimento de toda a flora e a manutenção da fauna.

Nos versos finais, vemos a metáfora ser aplicada à própria Mancha Verde. Para a escola de samba, eles só são capazes de matar a sede na avenida, quando cantam, dançam e se sentem verdadeiramente vivos. Para eles, o carnaval também é uma fonte de água!

Mais sambas-enredo para você conferir

Não tem como negar que o samba tem um aspecto social muito forte. Prova disso são os significados dos sambas-enredo das escolas, que carregam fortes mensagens em meio à folia da época.

Confira as mensagens por trás dos principais sambas-enredo em 2022:

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