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Tudo que você precisa saber sobre a indústria do k-pop

#kpoppers · Por Karoline Póss

28 de Junho de 2020, às 19:00

Você com certeza já deve ter ouvido falar de k-pop, o fenômeno musical que saiu da Coreia do Sul e conquistou seu espaço no mundo nos últimos anos. Mas como funciona essa indústria musical que movimenta bilhões de dólares?

Hoje falaremos sobre os bastidores do k-pop para que você possa entender um pouco mais sobre o que rola por trás destes artistas impecáveis em talento, beleza e carisma. 

Criação dos grupos de k-pop

O processo de criação de um grupo de k-pop é bem diferente do que conhecemos aqui no ocidente, com sucessos que normalmente são descobertos através de bandas de garagem, vídeos no YouTube ou programas de TV. Entenda como funciona por lá: 

Pré-preparo

Pode parecer redundante, mas é uma realidade no cenário do k-pop: para chegar onde estão, muitos grandes artistas começaram seu treinamento muito cedo (alguns até na infância, conciliando os estudos com aulas de dança), antes mesmo de serem contratados por suas empresas.

Audições

Embora algum artista ou outro seja descoberto na rua, o processo tradicional para se tornar um idol é passar por audições nas empresas de entretenimento.

O vídeo abaixo reúne as audições das integrantes do Girls’ Generation. Todas ainda em sua infância ou começo da adolescência, dançando, cantando e dando o seu melhor para provar seu talento. 

Todas as audições são julgadas por profissionais que selecionam os candidatos mais promissores para serem treinados.

Infelizmente, nem todos os talentos passam nessas audições de primeira: Park Bom, por exemplo, tentou diversas vezes até ser aceita na YG Entertainment, onde estreou como vocalista do 2NE1.

park bom 2ne1
Park Bom / Créditos: Divulgação

Alguns, por sua vez, nunca passam e acabam desistindo de seu sonho antes mesmo dele começar. É um cenário muito competitivo, com muitos interessados e poucas vagas.  

Treinamento

Para os que passam nas audições, o trabalho só aumenta: é a partir daqui que esses pré-artistas, chamados de trainees, começam a ser de fato treinados e testados constantemente para que melhorarem suas habilidades e provem para suas empresas que merecem a oportunidade de estrear no k-pop.

Além de canto e dança, esse treinamento também inclui aulas de atuação, desfile, etiqueta e idiomas. A diversão é limitada: acordar cedo e dormir tarde é algo frequente. 

idol k-pop
Créditos: Divulgação

Namoro? Nem pensar! Até o uso de celular é controlado pela empresa, e alguns só podem voltar a ter seus próprios aparelhos após a estreia. Dietas restritivas também fazem parte da lista. 

Para os jovens estudantes, trabalho em dose dupla ao ter que conciliar os estudos com os treinos. Por isso, muitos acabam entrando em escolas de arte, muito comuns na Coreia, onde podem fazer os dois ao mesmo tempo.

É um período muito difícil e nem todos conseguem levá-lo adiante: muitos trainees desistem na metade do caminho, vencidos pelo cansaço, pela saudade de casa ou de sua vida social.

Mais do que uma prova de talentos, também entra em jogo a resistência física e mental desses jovens sonhadores, por pior que isso pareça. 

A duração dessa jornada pode variar e muito: alguns artistas chegam a treinar somente dois meses, como Eunji (APINK), enquanto outros demoram mais para realizar seu sonho, como Jihyo (TWICE), que treinou por dez anos.  

Jihyo twice
Jihyo / Créditos: Divulgação

No cenário do k-pop

Agora que você já sabe como os artistas são treinados, vamos entrar um pouco mais nos bastidores de suas carreiras pós-debut:

Dominando a Hallyu

O principal foco é ter sucesso em seu país de origem: vender muito, alcançar posições altas nos charts e conquistar vitórias nos shows musicais semanais são alguns dos medidores de popularidade de um grupo, que também ultrapassa para outros pontos da Hallyu, a Onda Coreana. 

Lembra que os idols também têm aulas de atuação? É aqui que muitos deles começam a provar seu talento: no começo dos anos 2000, artistas do k-pop começaram a ser convidados para estrelar filmes e doramas (novelas coreanas), e a prática é extremamente comum hoje em dia. 

Cantar a trilha sonora destes dramas também é um trabalho que os idols tem dominado com perfeição e Taeyeon, do Girls’ Generation, é uma das principais artistas do ramo. Até música pra Disney ela já cantou!

Fazer comerciais para grandes marcas também é uma prova de sucesso, como o BTS, que promove a Samsung e até ganhou um modelo de smartphone em edição limitada, roxinho em homenagem ao we purple you do grupo. 💜

BTS para Samsung
BTS para Samsung / Créditos: Divulgação

Reconhecimento internacional

Quando falamos de um mundo completamente globalizado, fazer sucesso no exterior também é essencial. Até quem não gosta de k-pop já ouviu falar do BLACKPINK e do BTS, mas você sabia que a internacionalização do estilo começou muito antes deles surgirem?

BoA, ainda em 2002, foi a primeira artista de k-pop a ganhar reconhecimento fora da Coreia, conquistando o Japão com sua estreia no país.

A diva também tentou levar o som coreano para os Estados Unidos, seguida por Wonder Girls e Girls’ Generation, e embora nenhuma delas tenha tido grande êxito, foram passos essenciais para o k-pop ser o que é hoje. 

Gangnam Style, do PSY, foi uma sensação mundial em 2012 e quebrou recordes não só do k-pop, mas de toda a história do YouTube, se tornando o primeiro vídeo da plataforma a alcançar um bilhão de visualizações. 

O Monsta X, por exemplo, lançou um álbum completamente em inglês em 2019 e está fazendo grande sucesso na América. O BLACKPINK também prova sua fama no ocidente com grandes números no YouTube, enquanto o BTS lotou o estádio do Palmeiras com dois shows em 2019. Não é pouco, né? 

Mas também existem casos de grupos que não são tão conhecidos em seu país de origem e brilham muito por aqui, como o KARD, os queridinhos do público brasileiro, que sempre arrastam multidões de fãs para os seus shows e encantam com seu amor pela cultura latina.

Importância política 

Quando o k-pop surgiu em cena, a Ásia vivenciava uma grande crise financeira, a qual a Coreia do Sul conseguiu superar ao investir na exportação de seu entretenimento.

E foi assim que surgiu o que hoje conhecemos como Onda Hallyu, que envolve música, audiovisual, moda, gastronomia e muitos outros aspectos da cultura coreana.  

O k-pop também é uma grande ponte entre as duas coreias: apesar do estilo ser proibido no Norte, Red Velvet já performou por lá em um evento que buscava amizade e harmonia entre os países: 

Quando o sonho vira pesadelo 

Mas nem tudo são flores. Em um cenário competitivo e com dezenas de nomes surgindo anualmente, dentre empresas grandes, pequenas e novatas, é difícil conquistar o seu espaço próprio, e são poucos aqueles que conseguem garantir sua vaga nos holofotes. 

Muitos grupos sequer passam de seu primeiro single, enquanto outros duram anos e anos, mas não conseguem o devido reconhecimento apesar de seus esforços. History e Rainbow são provas de que o talento e a dedicação nem sempre compensam.  

grupo rainbow
Rainbow / Créditos: Divulgação

Outros até começam se saindo bem, mas são boicotados pela própria empresa. O B.A.P, por exemplo, foi um dos nomes mais populares do início da terceira geração. O grupo abriu um processo contra a TS Entertainment alegando tratamento injusto e contrato escravo e encontrou seu fim cedo demais. 

X1 é um caso mais recente: os meninos foram formados pelo programa de sobrevivência Produce X 101, cujos produtores foram acusados de manipular os resultados.

Entretanto, quem acabou pagando por isso foram os onze meninos, que tiveram seus contratos encerrados após cinco meses, sendo que haviam assinado para cinco anos!

O outro lado da moeda 

Como toda indústria, o k-pop também é um sistema capitalista que muitas vezes esquece que seus artistas são, sobretudo, humanos.

E isso parte tanto das empresas, com rotinas de trabalho exaustivas, quanto dos fãs, que idealizam e desumanizam seus ídolos constantemente. 

Saúde mental

Cada vez mais é quebrado o tabu de que ídolos não podem falar sobre saúde mental.

Nos últimos anos tivemos de lidar com tristes notícias de nomes da música coreana que tiraram suas próprias vidas, criando um estado de alerta entre os fãs que passaram a cobrar que as empresas oferecessem acompanhamento psicológico a seus artistas e maiores medidas protetivas contra ataques on-line, a fim de prevenir novos eventos. 

Com essa comoção, alguns artistas também se sentiram mais confortáveis em expor suas próprias condições aos fãs, como Taeyeon, líder do Girls’ Generation, que revelou em seu Instagram que está lutando contra a depressão e tem recebido o devido tratamento. 

Taeyeon, líder do Girls' Generation
Taeyeon / Créditos: Divulgação

Minzy, ex-integrante do 2NE1, também expôs como sua saúde mental foi abalada durante suas atividades no grupo que, apesar da fama estrondosa, sofreu grandes críticas do público coreano devido a aparência das integrantes, fora do padrão estético do país.

Polêmicas 

Alguns grandes escândalos também acompanham a jornada de personalidades da indústria do k-pop, como quando Seungri, ex-integrante do BIGBANG, foi acusado de mediar prostituição, ou quando a Dahee, ex-membro do GLAM, foi presa após chantagear um ator. 

Casos como esses ganham grande cenário na mídia internacional, que gosta de apontar o “lado sombrio do k-pop”, como sugere o título de muitas matérias. 

Entretanto, toda indústria musical tem o seu lado ruim e, por mais que o k-pop venda essa imagem de perfeição, seus bastidores não são tão diferentes. 

A sexualização de integrantes femininas também é uma pauta de destaque, com garotas do Nine Muses e do Stellar indo a público após o fim de suas carreiras para expôr como eram forçadas a performar uma imagem que as deixavam desconfortáveis.

Stellar
Stellar / Créditos: Divulgação

Casos de idols repreendidas pela mídia ou por suas empresas após se envolverem em pautas sociais também marcam o cenário de coisas que devem ser melhoradas no k-pop.

Como quando Irene (Red Velvet) foi boicotada pelos próprios fãs após recomendar um livro de cunho feminista, ou quando Denise (Secret Number) demonstrou apoio ao #BlackLivesMatter nas redes sociais e teve sua conta fechada pela própria agência, a Vine Entertainment.  

Post de Denise no Instagram
Post de Denise no Instagram / Créditos: Divulgação

Frente a falta de posicionamento de muitos artistas de k-pop quanto a movimentos sociais, BM (KARD) disse em uma live que muitos idols não são permitidos por suas respectivas empresas a se posicionarem e que suas imagens públicas são controladas.

Esse é outro aspecto polêmico que os fãs internacionais, principalmente, têm cobrado: nós queremos conhecer os reais pensamentos dos nossos ídolos!  

Vida romântica

Todo esse controle da vida pessoal dos artistas do k-pop transforma em tabu um assunto tão importante quanto o amor, em especial pelos fandoms coreanos, que ainda seguem a risca a ideia de que idols devem se dedicar somente aos seus fãs.

Hyuna e Dawn foram expulsos da Cube Entertainment após anunciarem que estavam namorando.

Dawn e Hyuna
Dawn e Hyuna / Créditos: Divulgação

O caso repercutiu tanto que o mundo presenciou diversas discussões sobre a liberdade romântica dos artistas de k-pop e, embora hoje o casal seja bem aceito e aparenta não se importar com as críticas, ainda existem muitas polêmicas a cerca do assunto. 

Um caso recente foi quando Chen, integrante do EXO, anunciou seu casamento e a gravidez de sua noiva. Enquanto no cenário internacional — inclusive no Brasil — os fãs apoiaram sua felicidade, houveram manifestações frente a sede de sua empresa, SM Entertainment, na qual fãs quebraram discos em protesto, demandando que Chen deixasse o grupo.

Protesto de fãs contra Chen, do EXO
Protesto de fãs contra Chen, do EXO / Créditos: Divulgação

Apesar das movimentações, a SM Entertainment não cedeu aos pedidos das fãs locais e o idol permanece como parte do EXO.

Por outro lado, Sungmin, do Super Junior, que é administrado pela mesma empresa, está afastado das atividades do grupo desde seu casamento em 2014, acontecimento que foi muito mal recebido pelas fãs do grupo.

Isso prova como os fãs também são super importantes no movimento: conforme os anos foram passando e o k-pop foi ficando mais forte no ocidente, algumas coisas mudaram, como a recepção de casos de romance entre artistas.

Mais do que meros consumidores, os fandoms possuem o direito de reclamar e exigir melhorias no sistema em que estão colocando seu dinheiro e apoio.

Pressionar empresas por melhores tratamentos aos artistas preferidos já se tornou parte do cotidiano de fãs de todo mundo. Só não vale querer cuidar da vida pessoal do idol, né? #DeixaElesAmarem

As gerações do k-pop

A indústria do k-pop é dividida em gerações e tudo indica que já estamos entrando na quarta! 

Mas toda essa história de sucesso começou ainda nos anos 90 e, se você quiser saber tudo sobre os primeiros nomes do ramo, temos um texto sobre os principais artistas primeira geração do k-pop. Bora? 

primeira geração do k-pop