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Fazer loginO nome dele é Gustavo Pereira Marques, porém nós o conhecemos como Djonga. Esse mineiro da capital estudou história, é rapper, compositor, escritor, ator, crítico social… Há muitos “rótulos” para qualificá-lo e, ao mesmo tempo, nenhum deles é suficiente, porque ele é muitos em um só. Seu álbum Ladrão já tem quase 5 milhões de views no YouTube.
Natural da Zona Leste de BH, Djonga começou a compor em 2010 com 16 anos, e suas influências musicais vão desde o samba até aos membros consagrados do rap nacional. Essa raíz eclética, que faz referência a nomes importantes como Renato Russo, faz com que o suas músicas sejam apreciadas por vários tipos de ouvintes. Exemplo disso é a Rainha da Sofrência, Marília Mendonça, ter citado uma de suas músicas nas redes sociais.
Djonga lançou, em março de 2019, seu terceiro álbum, Ladrão. Com a capa impactante e letras fortes, na primeira faixa ele já disse a que veio.
As músicas são ácidas, acertadas e criticam a classe média mineira: Cagando potes pra classe média culpada/ Que agora quer colar com nóis.
Além das denúncias sociais, há referências a Oscar Niemeyer, a Jordan Peele, diretor do filme Corra, cujo enredo mostra o racismo escrachado na sociedade estadunidense. Isso tudo atrelado à narrativa do contexto social da periferia de Belo Horizonte.
Todas as músicas são poesia pura, com toques de lirismo e de pé na porta. Mostram a gratidão e o respeito pelas origens, pelas raízes, pela ancestralidade e pela religiosidade. A seguir, duas das músicas que mais gostamos do álbum:
A letra de Hat-Trick já mostra a que veio:
Falo o que tem que ser dito
Pronto pra morrer de pé
Pro meu filho não viver de joelho
Cê não sabe o que é acordar com a responsa
Que pros menor daqui eu sou espelho.
Sabe a representatividade? Sabe aqueles meninos negligenciados na periferia? Pois é. Ele é um cara que fala do que sabe e do que viveu e que não quer que outros passem o que ele já passou.
Djonga menciona o machismo e usa o seu lugar de fala para denunciar a objetificação da mulher:
Cada vez mais objetivo
Pra que minhas irmãs deixem de ser objeto
E parece que liberaram o preconceito
Pelo menos antigamente esses cuzão era discreto
No final da letra, ele reforça a sua importância para o seu núcleo familiar e para a comunidade a qual ele representa:
De onde eu vim, quase todos dependem de mim
Todos temendo meu não, todos esperam meu sim.
Essa música tem a letra tão forte, tão real e tão representativa que é impossível destacar apenas algumas partes.
Bença é uma música com uma vibe bem pessoal e familiar, é uma das faixas do disco novo e a letra começa com um vocativo:
Vó, como cê conseguiu criar 3 mulheres sozinha
Na época que mulher não valia nada?
Menina na cidade grande, no susto viúva
E daquela cor que só serve pra ser abusada.
Retrata a força das mulheres, principalmente as de sua família, e as suas origens em uma sociedade patriarcal, machista e racista.
Além disso, ele menciona seu núcleo familiar e fala da “sorte” de ter um pai presente em um país onde há tanto abandono parental, principalmente por parte do homem:
Não teve a mesma sorte que eu, um pai presente
No país onde o homem que aborta mais, vai entender, né.
Enfim, é uma música que fala de ancestralidade, de racismo e de religiosidade. Os vocais contam com a bença da avó em meio ao ritmo nostálgico que nos remete às matriarcas fortes da maioria das famílias.
Ele começou a se interessar por poesia em 2012 quando frequentava saraus apenas como ouvinte. Em 2016, um ano antes do lançamento do primeiro CD, trabalhou em parcerias com diversos rappers notáveis e no mesmo ano foi convidado para fazer uma participação na faixa Sujismundo, de Baco Exu do Blues.
No ano seguinte, 2017, lançou seu álbum de estreia, Heresia. A capa do disco faz referência ao famoso CD dos mineiros do Clube da Esquina e o sucesso foi imediato. Em 2018 lançou seu segundo álbum, O Menino Que Queria Ser Deus.
Djonga tem um discurso afiado, composto por metáforas fortes presentes em suas letras atreladas a atitudes poderosas dentro e fora dos palcos. Muito além do talento para compor, uma palavra importante para descrever suas músicas e ele próprio é: representatividade.
“Ele é real… até demais”. Sentiu o impacto dessa frase? Pois é. É uma descrição perfeita de um cara que representa a voz de uma galera que é esquecida todos os dias. Esse tom de realidade, de “gente como a gente” faz com que as pessoas que vivem aquela realidade sintam-se acolhidas e descritas.
Ele é real, porque ele tem lugar de fala para criticar cada uma das coisas que ele critica. Ele é real, porque o seu discurso é coerente com suas ações. E, por fim, ele é real porque ele não precisa “fazer média” para ninguém, seu sucesso fala por si.
Claro que escolher músicas importantes dentro de um universo de letras geniais e necessárias para nossa sociedade atual é um desafio imenso. Djonga tem o tipo de letra que você pode ouvir inúmeras vezes que sempre vai achar uma informação, uma interpretação ou um detalhe novo.
É interessante pensar na música como forma de inclusão e no fato de a postura do cantor não mudar com o sucesso. Continua tendo como exemplos as mulheres fortes de sua família e continua sabendo para onde voltar.
E esse discurso é extremamente coerente com as atitudes do cantor, que disponibiliza suas músicas primeiro em plataformas mais acessíveis ao público geral, como YouTube, e somente depois em plataformas de streaming pagas.
Ficou com vontade conhecer mais sobre as músicas novas do rapper? Escute aqui todas as faixas do álbum Ladrão!
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