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Clube da Esquina II: confira a análise da canção de luta política

Analisando letras · Por Rafaela Damasceno

21 de Junho de 2022, às 12:00

Durante a Ditadura Militar no Brasil, um grupo trouxe esperança e poesia aos corações dos brasileiros sonhadores. Era o Clube da Esquina, formado em Minas Gerais por vários músicos que tentaram, pela música, lutar pelos seus ideais. 

Clube da Esquina
Créditos: Divulgação

Uma de suas composições mais importantes é Clube da Esquina II. Com forte teor político, a sua mensagem é de clara oposição ao regime ditatorial da época no Brasil, mas ela também pode ser aplicada a vários contextos de repressão e perda de direitos ao redor do mundo. 

Se você viveu esse período ou é fã do Clube da Esquina, com certeza já se encantou com a letra e a melodia de Clube da Esquina II, então, chegou a hora de conferir a nossa análise completa da canção. 

Clube da Esquina II: análise da música

Clube da Esquina II, Clube da Esquina 2 ou simplesmente Clube 2 foi lançada pela primeira vez em 1972, período em que o Brasil completava quase 10 anos de regime militar.

Naquela época, apesar da censura das produções artísticas, os músicos continuaram a escrever letras que falavam de esperança e luta pelos direitos do povo brasileiro. 

Contexto de criação e lançamento

Milton Nascimento e Lô Borges compuseram a melodia de Clube da Esquina II e a lançaram como uma faixa instrumental no álbum mais importante do grupo, chamado Clube da Esquina. Para os músicos, a canção não precisava de letra e já estava completa daquele jeito

Nana Caymmi
Nana Caymmi / Créditos: Divulgação

Apesar disso, a cantora Nana Caymmi, depois de ouvi-la, resolveu pedir ao integrante Márcio Borges que escrevesse uma letra. A ideia era incluir a música em seu próximo disco, que seria gravado em breve. 

Como já existia outra canção, de 1970, com o título de Clube da Esquina, o compositor resolveu intitulá-la Clube da Esquina II. 

Detalhes sobre a melodia 

Quando começamos a entrar em contato com a melodia de Clube da Esquina II, antes mesmo de ouvir a letra, dificilmente imaginamos que se trata de uma canção de resistência contra um regime ditatorial

A harmonia em tom maior, reforçada pelo piano, traz calma e beleza à canção, que nos remete a uma viagem de carro ou de ônibus, passando pelas estradas com paisagens poéticas do Brasil. Uma espécie de road trip, embalada pelo som suave do grupo. 

Como a letra menciona o aço e os gases lacrimogênios, era de se esperar que sentíssemos uma contradição entre esses dois elementos da música. Afinal, como uma melodia tão serena pode tratar de temas tão pesados? 

Porém, essa tranquilidade traz a calma necessária para lidar com toda a truculência da Ditadura Militar e nos remete a uma juventude sonhadora, indomável, que não tem medo de ir à luta.

Protesto ditadura
Artistas em protesto contra a ditadura militar / Créditos: Divulgação

Assim, a melodia de Clube da Esquina II é capaz de nos transmitir também calma e esperança, com um certo grau de melancolia. 

Análise das estrofes 

O que quer dizer a música Clube da Esquina II? Descubra a seguir, com a nossa análise, estrofe a estrofe, da criação de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges. 

Porque se chamava moço

Também se chamava estrada

Viagem de ventania

Nem lembra se olhou pra trás

Ao primeiro passo aço aço aço

Durante a censura às artes, imposta pela Ditadura Militar, os letristas precisavam criar metáforas para expressar os seus sentimentos de revolta e tristeza em relação à política e às questões econômicas e sociais do Brasil. 

Pensando nisso, podemos perceber que o moço ao qual se refere Márcio Borges é qualquer cidadão brasileiro, que continua a seguir o seu caminho durante esse período histórico. Mais precisamente, traz a ideia de um jovem, que carrega dentro de si a audácia da juventude. 

Créditos: Divulgação

Ao primeiro passo, ou seja, a qualquer escolha que o moço fizesse em sua vida, poderia se deparar, de forma inesperada, com repressões em forma de armas de fogo, representadas metaforicamente pela palavra aço. Ela se repete três vezes no último verso, trazendo mais ênfase para esse instrumento que silencia e enfraquece

Porque se chamava homem

Também se chamavam sonhos

E sonhos não envelhecem

Em meio a tantos gases

Lacrimogênios ficam calmos calmos calmos

E lá se vai mais um dia

Embora fosse difícil se manter firme às suas convicções, as pessoas continuavam a seguir os seus objetivos e os seus ideais, como se necessitassem deles para permanecer existindo. Por isso, chamavam-se homens, mas também se chamavam sonhos. 

A cada dia que se passava, a resistência continuava forte, mesmo em meio aos gases lacrimogênios, que eram (e ainda são) ferramentas utilizadas pela polícia para dispersar manifestantes em protestos e manifestações contrárias ao governo vigente. 

E basta contar com passo

E basta contar consigo que a chama não tem pavio

De tudo se faz canção e o coração na curva de um rio

A arte, muito mais que bela, é também uma forma de expressão das emoções e das convicções dos seus artistas. E foi exatamente ela que salvou muitas pessoas da depressão e do medo durante a Ditadura Militar.

Assim, Márcio Borges escreveu que de tudo se faz canção. A ideia aqui transmitida é de que a música é como um quadro em que podemos pintar qualquer paisagem e imaginar um futuro melhor, mais livre e igualitário.

Ao final, há ainda uma referência ao coração na curva de um rio. É também uma metáfora para a confusão e o desespero daqueles que não concordavam com a política dominante na época. 

E o rio de asfalto e gente

Entorna pelas ladeiras

Entope o meio fio

Esquina mais de um milhão

Quero ver então a gente gente gente

Apesar de haver muita repressão dos militares, várias pessoas ainda se reuniam para compartilhar as suas ideias e combinar formas de resistência política. Afinal, tinha-se muito o que combater: o alto preço dos produtos, a crise tributária, a redução dos direitos dos trabalhadores, a falta de liberdade de expressão, entre muitas outras causas. 

Esses manifestantes, que tiveram muita coragem e determinação, são representados em Clube da Esquina II pela metáfora do rio de gente que entorna pelas ladeiras e entope o meio fio. 

Movimento Diretas Já
Movimento Diretas Já / Créditos: Divulgação

Ao final da música, podemos perceber que Márcio Borges e todos os integrantes do Clube da Esquina expressam claramente o seu apoio a todos esses movimentos que eclodiram no Brasil, ao cantar: Quero ver então a gente gente gente. 

Mais uma vez, a repetição é uma estratégia usada para dar força a uma mensagem. Só que, nesse caso, é um reforço àqueles que, sem o apoio dos poderosos, conseguiram se manter firmes, pela união do povo. 👊🏻

Confira a análise de Tudo O Que Você Podia Ser, de Milton Nascimento

Você acaba de perceber que a análise da música Clube da Esquina II é muito interessante e nos ajuda a compreender o a história por trás da sua letra.

Agora que você conheceu o significado das estrofes da canção, chegou a hora de descobrir o que Milton Nascimento queria dizer com a faixa Tudo O Que Você Podia Ser

analise tudo o que você podia ser

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