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Biografia do Cartola: conheça a trajetória do sambista

Biografias · Por Érika Freire

17 de Junho de 2021, às 19:00

O que seria do nosso bom e velho samba sem a figura de Cartola? Nascido no Rio de Janeiro em 1908, Angenor de Oliveira foi um dos maiores compositores e sambistas do país.

Como muitos gênios, infelizmente o reconhecimento chegou tarde para Cartola, que só foi lançar o seu primeiro LP quando passava dos 60 anos. Mesmo com a vida sendo dura com ele em muitos momentos, não deixou morrer a sua sensibilidade e olhar de poeta.

Cartola
Créditos: Divulgação

Criou lindas composições, algumas de improviso, outras em parceria com sambistas da época. Entre seus sucessos inesquecíveis estão As Rosas não Falam, O Mundo É um Moinho e O Sol Nascerá.

Para relembrar a trajetória do cantor, convidamos você para conhecer um pouco mais sobre a biografia e o legado de Cartola.

Biografia do Cartola:

Cartola nasceu no bairro do Catete, onde viveu parte de sua infância até os 8 anos. Foi o primeiro dos oito filhos de Aída Gomes de Oliveira e Sebastião Joaquim de Oliveira. 

Ainda criança, foi viver em Laranjeiras, quando a família mudou para o bairro carioca, em 1916. Lá, fez parte de alguns ranchos carnavalescos tocando cavaquinho, instrumento que ganhou do pai quando tinha 8 anos. 

Cartola
Créditos: Divulgação

Estudou até o quarto ano primário, mas isso não prejudicou em nada a sua desenvoltura com as palavras. Foi com o seu pai que aprendeu a tocar violão, admirando-se pela música e pelo samba ainda menino. 

Com as dificuldades financeiras, a família decidiu mudar para o Morro da Mangueira. Cartola tinha por volta dos 11 anos quando foi viver no local que despertaria ainda mais a sua paixão pelo samba.

Para colaborar com o sustento da casa, começou a trabalhar em uma tipografia. Com 15 anos, após a morte de sua mãe, decidiu parar de estudar e trabalhou em diversas atividades, desde lavador de carros, ajudante de obra… E foi como ajudante de obra que o apelido Cartola surgiu.

Morro da Mangueira
Morro da Mangueira / Créditos: Divulgação

É que ele costumava usar um chapéu-coco para cobrir a cabeça e evitar que a tinta caísse no rosto.

O início de Cartola no samba e na boêmia 

A vida boêmia ganhou força quando Cartola conheceu Carlos Cachaça que, com seis anos a mais, apresentou a Cartola um pouco da malandragem, da bebida e do samba. 

Carlos Cachaça e Cartola
Cartola e Carlos Cachaça / Créditos: Divulgação

Ao lado de outros amigos do morro, o sambista criou o Bloco dos Arengueiros, que foi o primeiro passo para o que mais tarde se tornaria a Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928.

Na ocasião, Cartola ficou com o cargo de primeiro Diretor de Harmonia da Escola e as cores e o emblema da Mangueira foram escolhidos e criados por ele.

Mesmo trabalhando como ajudante de obras, Cartola não deixava de compor e acabou escrevendo o primeiro samba para a Mangueira, Chega de Demanda

Conforme a escola ganhava notoriedade, o nome de Cartola também crescia e ele era apontado como um dos principais compositores da Mangueira. Nascia ali o sambista! 

As primeiras parcerias 

Na década de 30, o cantor começou a ficar conhecido fora do ambiente da escola de samba e algumas parcerias surgiram.

Da parceria com Carlos Cachaça, provando que a amizade ia além da troca de copos, surgiu o samba Pudesse Meu ideal, levando a Mangueira ao pódio em 1932.

Mangueira 1932
Créditos: Divulgação

Sendo procurado pelo popular cantor da era do rádio Mário Reis, Cartola chegou a vender os direitos de gravação do samba Que Infeliz Sorte, gravado por Francisco Alves, outro cantor popular na época.

Fez também uma parceria com Noel Rosa e juntos compuseram algumas canções sendo uma delas Tenho Um Novo Amor, música gravada por Carmen Miranda.

No ano seguinte, 1933, o samba Divina Dama foi o primeiro a se tornar um grande sucesso, interpretado por Francisco Alves.

As parcerias de Cartola não pararam por aí e, nos anos 40, grandes nomes da música brasileira, como Pixinguinha, Zé da Zilda, João da Baiana, Donga, João da Baiana se juntaram a Cartola para formar grupos de sambistas, tudo incentivado por Heitor Villa-Lobos.

O objetivo de Heitor Villa-Lobos era que os sambistas fizessem gravações para que o maestro americano Leopold Stokowsk gravasse em um navio ancorado no píer da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. 

Native Brazilian Music
Créditos: Divulgação

A bordo do navio, Cartola chegou a gravar Quem Me Vê Sorrindo. Desta iniciativa, surgiu o álbum Native Brazilian Music, lançado em 1946. 

O holofote se apaga 

A década de 40 parecia promissora para o músico, porém, o cantor sumiu nos anos seguintes e enfrentou muitas dificuldades. Os holofotes que haviam apenas começado a apontar os bons caminhos para Cartola, de repente, se apagaram. 

A Mangueira teve a sua direção trocada e os novos integrantes não viram no compositor o seu verdadeiro valor. Sua música que representaria a Mangueira no carnaval de 1947 foi desqualificada pelos jurados.

Chegou a brigar com os novos integrantes da escola e acabou saindo do morro, ficando desaparecido por uns sete anos.

Como se fosse uma maré de azar, o cantor ainda ficou doente de meningite, entrou em coma por três dias e precisou usar muletas por um ano. Foi morar em Nilópolis ao lado de sua primeira mulher, Deolinda, com quem vivia junto desde os 18 anos.

Deolinda, Creuza e a criação de um sucesso

Cartola foi viver com Deolinda após a morte de sua mãe. Como ele e seu pai não se davam bem, seu Sebastião decidiu ir embora do Morro da Mangueira, deixando o filho sozinho.

É neste momento que a vizinha Dona Deolinda, sete anos mais velha que Cartola, surge na vida do cantor.

Ele se apaixona, mas ela já era casada e tinha uma filha chamada Creuza. Porém, ela abandonou o casamento para viver com Cartola.

O músico acolheu e criou Creuza como se fosse sua filha e é através da relação entre os dois que surgiu um dos maiores sucessos de Cartola, a música O Mundo É Um Moinho.

Infelizmente, depois de se recuperar da meningite, Cartola teve que lidar com a morte de Deolinda, que faleceu por conta de um ataque cardíaco. Afastado do mercado e da cena musical, chegou a morar na favela no bairro do Caju com outra mulher, Donária.

Para se manter, se virava como lavador de carros e vigia de edifícios. Por conta do sumiço, muitos chegaram a cogitar que Cartola havia morrido. 

Em 1959, o jornalista Sérgio Porto encontrou Cartola em Ipanema trabalhando como lavador e guardador de carros. Ele abriu espaço para o cantor voltar às rádios, retornando assim ao cenário artístico outra vez. 

Um novo amor e o início do Zicartola 

Antes de ser encontrado por Sérgio Porto, Cartola vivia uma de suas piores fases da vida. Totalmente entregue à bebida, magro, sem dentes e enfrentando muitas dificuldades.

Até que uma antiga admiradora do cantor, Eusébia Silva do Nascimento, ficou sabendo que ele estava vivendo na favela da Manilha e decidiu procurá-lo.

Cartola e Dona Zica
Cartola e Dona Zica / Créditos: Divulgação

Eusébia era conhecida como dona Zica e era cunhada do amigo Carlos Cachaça. Provavelmente a paixão pelo músico surgiu naquele período de parceria entre os dois. 

Dona Zica deu força à Cartola e juntos voltaram para o Morro da Mangueira e criaram o bar Zicartola, no início dos anos 60. O local se tornou um ponto de encontro de sambistas, músicos e compositores.

Zica e Cartola decidiram oficializar a relação em 1964 e ele compôs para ela o samba Nós Dois.

Foi a partir deste período que o músico foi reconhecido e passou a viver como merecia. 

Participou do filme Ganga Zumba, de Carlos Diegues, e finalmente lançou seu primeiro disco em 1974, considerado um dos melhores do ano. Após 27 anos afastado, voltou a desfilar pela Mangueira.

Capa do filme Ganga Zumba
Capa do filme Ganga Zumba / Créditos: Divulgação

Ficou junto de dona Zica até falecer, em 30 de novembro de 1980, por conta de um câncer, aos 72 anos de idade. Como uma reparação histórica, muitas homenagens surgiram após a morte de Cartola e finalmente o seu legado passou a ser reconhecido. 

Você conhece a história do samba?

Já dizia Dorival Caymmi: quem não gosta de samba bom sujeito não é… Um dos estilos musicais mais populares do Brasil, o samba nasceu da mistura de ritmos africanos com o swing baiano.

Depois de conhecer a biografia do Cartola, vem conhecer um pouco mais sobre a história do samba, patrimônio cultural do Brasil!

História do samba

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