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Conheça o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, campeã do Carnaval 2023

A escola do bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio, homenageou Lampião, Maria Bonita e o cangaço, e convidou o espectador a imaginar o que teria acontecido com Lampião após sua morte.

Analisando letras · Por Ana Paula Marques

23 de Fevereiro de 2023, às 15:12

Uma simples análise do samba-enredo de 2023 da Imperatriz Leopoldinense mostra como a escola superou um jejum de 22 anos com muita criatividade para se consagrar campeã do Carnaval carioca pela nona vez na história.

Com uma homenagem a Lampião, Maria Bonita e o cangaço, a agremiação do carnavalesco Leandro Vieira emocionou espectadores do Brasil inteiro com um desfile impecável.

O cortejo teve direito até à presença da filha do casal de cangaceiros, Expedita Ferreira, que desfilou no quinto carro alegórico no auge de seus 90 anos de idade!

Expedita Ferreira em desfile pela Imperatriz Leopoldinense, campeã do Carnaval do Rio em 2023
Expedita Ferreira durante o desfile da Imperatriz Leopoldinense. Créditos: Divulgação.

Se você não assistiu à apresentação ou quer entender mais a fundo o samba da escola do bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio, este artigo foi produzido especialmente para você.

Vem descobrir tudo sobre o samba-enredo campeão de 2023!

Análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2023

Quarta agremiação a desfilar pela Marquês de Sapucaí na madrugada de terça-feira (21), a escola de Ramos fez história no Carnaval do Rio de Janeiro.

A análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2023 mostra que a escola apostou na literatura de cordel para especular o que poderia ter acontecido com Lampião após sua morte, em 1938.

Maria Bonita e Lampião
Maria Bonita e Lampião. Créditos: Divulgação.

Com o tema O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida, a agremiação deu um toque nordestino a seu samba, introduzindo instrumentos típicos do forró para enriquecer seu espetáculo.

A bateria de Mestre Lolo foi reforçada com triângulos e zabumbas para contar a história do cangaço e de seus maiores expoentes, o casal Lampião e Maria Bonita, figuras icônicas da história brasileira.

Lampião, Maria Bonita e o Cangaço na avenida

O samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense convidou o espectador a um exercício de imaginação. Afinal, Lampião foi herói ou vilão? Acabou no céu ou no inferno?

Para contar essa história, a escola de Ramos se inspirou em dois famosos cordéis: A Chegada de Lampião no Inferno e O Grande Debate que Teve Lampião com São Pedro, ambos assinados pelo autor José Pacheco.

Composto pelo grupo Me Leva, Gabriel Coelho, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Antonio Crescente e Renne Barbosa, com Pitty de Menezes nos vocais, o samba fez uma viagem no tempo até o começo do século XX.

"O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida", samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

O fim no começo: a morte de Lampião e o choro popular

A primeira estrofe apresenta logo de cara a identidade do cangaço ao público de todo o Brasil, especialmente por meio de expressões tipicamente nordestinas, como “achegava” e “cabra”.

Disse um cabra que nas bandas do Nordeste

Pilão deitado se achegava com o bando

Vinha no rifle de corisco e cansanção

Junto de Cirilo Antão, Virgulino no comando

No trecho acima, o samba narra a emboscada que resultou na morte de Lampião, cujo nome real era Virgulino Ferreira da Silva.

A passagem lembra a relação de cumplicidade do cangaceiro com seus parceiros: Corisco, Cansanção, Cirilo Antão e Pilão Deitado, entre outros, que estavam ao seu lado em seus últimos momentos.

Desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

O adeus a Lampião e o povo aperreado

Na sequência, a música canta a comoção do povo diante da morte do maior nome do cangaço.

Deus nos acuda, todo povo aperreado

A notícia corre céu e chão rachado

Rebuliço no olhar de um mamulengo

Era dia vinte e oito e lagrimava o sereno

Estava montado, então, o cenário para a especulação sobre o destino de Lampião, narrado como grande herói do povo nordestino pelo samba-enredo, que deixou seu “adeus, capitão” para imaginar o que poderia ter havido no além-túmulo do cangaceiro.

A passagem “era dia vinte e oito”, por sua vez, faz referência à data da morte do cangaceiro, 28 de julho de 1938, enquanto o trecho “rebuliço no olhar de um mamulengo” refere-se ao espanto que a morte inesperada de Lampião gerou no povo nordestino.

Adeus a Lampião no desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

As “andanças” de Lampião no mundo do além: o ciúme de Satanás

A partir da morte do complexo Lampião, o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2023 usa a poesia para contemplar qual, afinal, teria sido o fim da alma de Virgulino.

Nos confins do submundo onde não existe inverno

Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno

Atiçou o cão catraz, fez furdunço

E Satanás expulsou ele do inferno

Em um primeiro momento, Lampião teria vagado sem rumo pelo inferno, até ter sido expulso pelo próprio Satanás, enciumado com a bravura do cangaceiro e temeroso de dividir espaço com uma figura do calibre de Lampião.

Lampião é expulso do inferno no desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

Sem espaço para o cangaceiro no céu

Em outra passagem da análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2023, o cangaceiro tampouco teria encontrado abrigo no paraíso.

A letra conta que os santos agiram como “bedeis”, um cargo semelhante ao de síndico de um prédio ou diretor de escola, unidos no propósito de evitar que o violento Lampião entrasse no céu.

O jagunço implorou um lugar no céu

Toda santaria se fez de bedel

Experiente e cheio de malícia, o cangaceiro não se deu por vencido: ele entra no paraíso escondido, “de tocaia num balão”, e pede a intercessão de seu amado Padre Cícero.

Cabra macho excomungado de tocaia num balão

Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação

Lampião pede a intercessão de Padre Cícero no desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

Do céu aos braços do povo nordestino

Lampião, então, seguiu sua jornada, voltando à Terra: em vez de vagar pelos quatro cantos do sertão, no pós-vida ele caminharia sem cessar, “tal qual barro feito a mão misturado na areia”.

A análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2023, então, sugere que o destino do cangaceiro foi exatamente o lugar que dominava o seu coração: seu amado Nordeste.

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora

Bate zabumba tocando no meu coração

Leopoldinense, cangaceira é minha escola

Eis o destino do valente Lampião!

Lampião nos braços do povo nordestino no desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023
Créditos: Divulgação.

Consagração e fim de um jejum de 22 anos

Se a análise do samba-enredo de 2023 da Imperatriz Leopoldinense ainda não te convenceu da riqueza da história contada por meio do cordel na Sapucaí, talvez o resultado do desfile mude a sua opinião.

A combinação de técnica musical, poesia, bateria afinada e dançarinos talentosos encerrou um incômodo jejum de 22 anos sem títulos, desbancando favoritas como a Beija-Flor e a Mangueira, soltando novamente o coro de “a campeã voltou”.

A agremiação somou 269,8 pontos, à frente de Unidos do Viradouro e Unidos de Vila Isabel, que terminaram a apuração com 269,7 e 269,3 pontos, respectivamente.

Imperatriz Leopoldinense é campeã do Carnaval 2023
Créditos: Divulgação.

Do Brasil para o mundo: conheça a história do samba

Gostou da nossa análise do samba-enredo de 2023 da Imperatriz Leopoldinense? Então você não pode deixar de conhecer um pouco mais sobre a história do samba, patrimônio cultural do Brasil.

O ritmo mais brasileiro de todos ajudou a moldar a história do país e segue influenciando a arte, a cultura e a sociedade desde o século passado!

História do samba no Brasil

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