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Análise da música Refrão de Bolero, do Engenheiros do Hawaii

Analisando letras · Por Érika Freire

19 de Abril de 2020, às 19:00

Entre a década de 80 e 90, quem curtia o rock nacional embarcou junto na Infinita Highway da Engenheiros do Hawaii, banda de Porto Alegre formada em 1983.

Engenheiros do Hawaii
Créditos: Divulgação

Com letras profundas e filosóficas, as músicas compostas pelo líder Humberto Gessinger costumam render diversas interpretações, como é o caso de Refrão de Bolero, que até hoje faz a gente se perguntar quem é a Ana. Seria uma musa inspiradora ou o oposto disso? 

Com o talento nítido do trio Humberto Gessinger, Carlos Maltz e Augusto Licks, o Engenheiros não demorou para conquistar seus fãs e se tornar uma das maiores bandas do rock brazuca. 

O hit Refrão de Bolero faz parte do álbum A Revolta Dos Dandis, de 1987, porém, a música só foi fazer sucesso na década de 90, após a MTV exibir um clip de um show da turnê O Papa É Pop

A Revolta dos Dandis
Capa do álbum A Revolta Dos Dandis / Créditos: Divulgação

Quer saber mais sobre o significado da canção? Vem com a gente na análise da música Refrão de Bolero

Análise da música Refrão de Bolero

Vamos começar nossa análise pela questão que já comentamos no texto: a música teve uma musa inspiradora?

Quem é a Ana da música Refrão de Bolero?

Muitas composições costumam ser inspiradas por histórias reais, casos de amor e por musas ou musos. A canção Refrão de Bolero conta com uma personagem feminina chamada Ana. 

Porém, as informações sobre a mulher são vagas, para descontentamento dos fãs e curiosos. É claro que já tentaram questionar Humberto Gessinger sobre quem foi Ana algumas vezes.

Certa vez, em 1991, durante um programa da TV Cultura chamado Matéria Prima, ele chegou a comentar apenas que Ana era uma garota de Porto Alegre e só. Um ano depois, no Programa Livre de Serginho Groisman, outra vez o compositor foi questionado, e respondeu o seguinte: 

Conheci uma Ana que se chamava Ana, conheci outras que não se chamavam Ana. Elas existem, pode crer

Humberto, talvez para tentar tirar a imagem de Ana que havia ficado tão marcada em Refrão de Bolero, resolveu tirar o nome da música ao gravar o disco 10 Mil Destinos Ao Vivo. No acústico gravado para a MTV em 2004, a música também foi cantada sem o nome Ana. 

A letra da música fala sobre arrependimentos, erros e sugere o quão difícil é superar a tal Ana.

Aliás, o próprio título da canção sugere algo marcante, um peso emocional, uma vez que o refrão de uma música é sempre a parte mais especial, aquela que marca. 

E não podemos deixar de observar o bolero enquanto gênero, conhecido como um estilo romântico, com letras bastante sentimentais e de sofrimento. 

Vamos nos aprofundar mais e analisar trecho a trecho da canção a seguir?

Análise trecho a trecho da música Refrão de Bolero 

Eu que falei: nem pensar
Agora me arrependo, roendo as unhas
Frágeis testemunhas de um crime sem perdão
Mas eu falei sem pensar

A primeira frase da música é comumente interpretada como o eu lírico falando sem pensar, de forma direta e em seguida mostrando arrependimento.

Ele se arrepende dessa fala, mas sugere que os dois são partes de um crime sem perdão e a frase final da primeira estrofe vem direta, sem os dois pontos, sugerindo que, agora sim, ele confessa que disse algo sem pensar antes. 

Coração na mão como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser
E um erro assim, tão vulgar

O coração está na mão, angustiado como um refrão de bolero. Ele reconhece que a sua sinceridade não foi legal, pois quando notamos que a nossa sinceridade pode magoar ou causar conflito, o melhor seria ficar em silêncio. 

Ele fala de um erro vulgar. Qual seria a compreensão de um erro apontado como vulgar? Um desvio, um caso de amor que não deveria ter acontecido? 

Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar
Num bar

A noite como cenário, dando a conotação de excessos, bebidas, tristeza, conversas… Muitos sentimentos envolvem um bar à noite e nem sempre é o de alegria. 

Visualizamos nesta parte a cena de alguém que cometeu algum erro, se arrependeu e saiu para tentar esquecer das coisas. 

Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada
No espelho do banheiro

Essa ideia é reforçada neste trecho, onde temos o vinho barato, o cigarro num cinzeiro e o próprio reflexo no espelho do banheiro.

Ele se vê, enxerga seu rosto, sabe que é o responsável por tudo: por essa tristeza que sente, por ter sido impulsivo ao falar coisas que não deveria ter dito.

Ana, teus lábios são labirintos, Ana
Que atraem os meus instintos mais sacanas
E o teu olhar sempre distante sempre me engana

Ana surge e o eu lírico, mesmo diante da tristeza por ter errado em algum fato ou momento desta história, reconhece que ainda sente atração pela mulher. 

Os lábios de Ana são labirintos, quando ele entra, não consegue sair, ele se perde em seus beijos. O instinto dele se atiça com Ana, mas ela se mostra distante no olhar e isso causa nele um engano, uma dúvida. 

Ana, teus lábios são labirintos, Ana
Eu sigo a tua pista todo dia da semana
Eu entro sempre na tua dança de cigana

Mais adiante na música, temos este trecho que pode nos causar dúvida de que a personagem Ana também pode ter a sua culpa pelo relacionamento ter acabado. 

Talvez ele tenha precisado se afastar dela, mesmo ainda tendo sentimentos por ela por conta da sua personalidade dúbia. Ela se aproxima e se afasta, o seduz com a dança, mas parece ausente, como se não desse importância para ele. 

E ele, apaixonado, segue as pistas, entra na dança de Ana, mas parece que não adianta esse esforço todo. 

Mais sobre o Engenheiros do Hawaii 

Uma greve na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em 1984, fez com que os estudantes se unissem para produzir arte. 

Humberto Gessinger, Carlos Stein, Marcelo Pitz e Carlos Maltz aproveitaram para fazer uma apresentação e a partir dali o Engenheiros do Hawaii davam os primeiros passos na carreira de sucesso, mesmo com a intenção inicial de ser uma banda de apenas uma noite, como aponta a biografia Infinita Highway, escrita por Alexandre Lucchese.

Engenheiros do Hawaii
Créditos: Divulgação

Com o intuito de fazer sátira aos estudantes de engenharia, eles escolheram o nome da banda: Engenheiros do Hawaii. Isso porque os alunos costumavam andar de bermuda de surfista pela faculdade. 

Os integrantes eram vistos como meio “fora da caixa”, principalmente pela cena roqueira da época. Ao invés de circularem entre os artistas, o autor do livro comenta que eles preferiam ficar em casa discutindo Camus ou Andy Warhol.

No Rock in Rio II, realizado em 1991, o grupo tocou ao lado de gigantes como Sepultura e Guns N’ Roses e acabou sendo a única banda brasileira a ser elogiada pelo New York Times. 

O último trabalho inédito da banda foi lançado em 2007, Novos Horizontes e, no final de 2019, Humberto Gessinger lançou o disco solo Não Vejo a Hora.

Relembre outras músicas inspiradas em mulheres 

Agora que você já sabe um pouco mais sobre a misteriosa Ana, que tal descobrir quem foram outras musas inspiradoras de canções? 

Camila, Bárbara, Anna Júlia… Vem com gente relembrar e saber mais sobre várias músicas com nomes de mulheres!

Músicas com nome de mulher