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Afrobeat: conheça o gênero musical africano que ganhou o mundo

Saia tudo sobre o Afrobeat, estilo musical africano que começou na Nigéria e se popularizou pelo continente nos anos 70.

História da música · Por Rafaela Damasceno

16 de Fevereiro de 2023, às 15:00

Criado na Nigéria, o Afrobeat honra a história e a cultura da África como nenhum outro estilo musical. É por isso que o estilo é tão popular pelos quatro cantos do continente e, agora, está atravessando o oceano e conquistando novas terras

Com o fácil acesso a conteúdos de qualquer lugar do mundo, a música africana agrada públicos de diversas nacionalidades.

Afrobeat
Créditos: Divulgação

Além disso, muitos músicos afrodescendentes estão se interessando por essa mistura de ritmos e sons, como um resgate a suas origens. 

Confira, a seguir, um guia completo para conhecer o Afrobeat e seus principais artistas:

A história do Afrobeat

Enquanto no Brasil nós temos a Música Popular Brasileira, que marcou a nossa história, em grande parte dos países africanos, as pessoas manifestam a sua arte e as suas convicções políticas por meio do Afrobeat.

Conheça agora todos os detalhes sobre o estilo!

Qual é a origem do Afrobeat?

Na Nigéria, durante a década de 1960, a ditadura militar tomava conta do país e muitos conflitos se instauraram por lá.

Nesse contexto, os artistas representavam uma das classes mais afetadas, pois eram impedidos de expressar as suas vontades e os seus sentimentos por meio da música, da literatura, do cinema e do teatro.

Um deles foi o cantor e multi instrumentista Fela Kuti. Depois de estudar um tempo na Inglaterra, ele resolveu se aventurar pelos Estados Unidos.

Fela Kuti
Fela Kuti / Créditos: Divulgação

De passagem por Los Angeles, em 1969, ele conheceu a cantora Sandra Izsadore e os dois começaram a trocar influências musicais e ideológicas, principalmente sobre o Partido dos Panteras Negras, do qual ela fazia parte.

De volta ao seu país de origem, o músico colocou em prática tudo o que aprendeu com Sandra e começou a produzir canções em um estilo totalmente diferente dos que os nigerianos estavam acostumados.

Sandra Izsadore e Fela Kuti
Fela Kuti e Sandra Izsadore / Créditos: Divulgação

Era uma espécie de união entre o tradicional e o novo. Sem falar das temáticas sobre política e sobre a luta pela liberdade de expressão

A partir desse contato com Sandra e outros artistas americanos, Fela Kuti fez uma mistura de sons e criou o Afrobeat.

As maiores influências do Afrobeat

Eram vários ritmos tradicionais da África Ocidental, especialmente o iorubá. Ele também incorporou referências do highlife africano, do jazz e do funk americano.

Esse mix está presente em seus 40 álbuns lançados. Todos eles fizeram muito sucesso na Nigéria, em outros países africanos e também nos Estados Unidos. Tanto que James Brown sempre elogiava os seus trabalhos. 

Ao lado de outros artistas, ele reunia em seu palco mais de 10 músicos multi instrumentistas e várias dançarinas, com apresentações muito mais longas do que o público estava acostumado na época.

Era uma fusão de talentos, referências e manifestações artísticas, como nunca havia se visto antes. 

Funmilayo Afrobeat Orquestra
Funmilayo Afrobeat Orquestra / Créditos: Divulgação

Hoje, o estilo é utilizado não só para se referir ao ritmo original, mas também para vários outros que surgiram a partir dele, com pegadas mais eletrônicas, criados principalmente em Gana e na Nigéria.

É o caso do afro pop e do afro funk, que estão muito em alta na atualidade.  

Principais características do Afrobeat

Apesar de hoje o Afrobeat ser uma grande mistura de ritmos, ele tem algumas características básicas, que o diferem dos outros estilos e definem a sua originalidade. 

No geral, as bandas têm sempre um número grande de membros. Antigamente, elas chegavam a ter entre 15 e 20 integrantes, mas hoje existem alguns grupos só de 10 pessoas. 

Alguns instrumentos também são essenciais para o estilo: duas guitarras, baixo, bateria, sopros e muita percussão. Sem falar nos backing vocals

A repetição é uma outra peculiaridade. Os grooves aparecem em looping com frequência, geralmente em toda a música. Além disso, é muito comum que as canções sejam formadas por um só acorde, o que ajuda a manter a ideia de que elas são como mantras da cultura africana. 

É por isso que as composições são bastante longas. Na época de Fela Kuti, por exemplo, suas faixas duravam cerca de 15 e às vezes até 25 minutos. Porém, hoje em dia, essa duração já se reduziu também. 

O papel de Fela Kuti no Afrobeat

Música e política sempre andaram lado a lado e, nesse caso, não poderia ser diferente. Fela Kuti fundou uma casa de resistência contra os regimes totalitários.

Era a “República de Kalakuta”, criada para abrigar amigos, familiares e membros de sua banda. 

Com isso, o cantor se tornou um dos maiores símbolos da resistência negra, ao lutar com a sua arma mais poderosa: a arte. Um episódio que marcou a história da Nigéria ocorreu após o lançamento do álbum Zombie, de 1977.

A canção principal era uma dura crítica ao regime ditatorial da época, que comparava os militares com os zumbis:

Essa manifestação não agradou em nada as autoridades e motivou um ataque de mil soldados à República de Kalakuta. Na invasão, várias pessoas ficaram feridas, instrumentos foram destruídos e gravações raras foram queimadas. 

Mas a pior ação atingiu o músico diretamente: a sua mãe foi arremessada por uma janela, não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo em seguida.

Como resposta, Kuti deixou o caixão da matriarca no principal quartel do Exército e compôs várias músicas sobre a sua dor. 

Principais artistas do Afrobeat

Conheça outros artistas que fizeram e fazem história no estilo:

Tony Allen

Falecido em 2020, Tony Allen foi baterista e parceiro de Kuti durante toda a sua carreira e participou de diversos projetos musicais, inclusive no Brasil.

Ouça agora uma das canções em parceria com o trio brasileiro de Jazz Metá Metá, Alakorô:

Seun Kuti e Egypt 80

Seun Kuti é filho caçula de Fela Kuti e, assim como outros herdeiros, seguiu os passos da família. Ele começou com apenas 8 anos, na banda Egypt 80, fundada por seu pai em 1970. Com a morte do líder, Seun assumiu os vocais, aos 15. 

O músico já fez várias colaborações com artistas renomados, como Sinead O’Connor. Confira James Brown, uma faixa gravada pela dupla:

Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou

Entre 1960 e 1983, a banda Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou explorou, além do Afrobeat, outros ritmos, como o funk e o soukus. Anos depois, no início de 2000, o grupo passou a fazer sucesso além das fronteiras africanas.

Apesar do falecimento de seu líder, Mélomé Clément, em 2012, os demais integrantes continuam a fazer shows pelo mundo e já passaram inclusive por aqui. Vale a pena escutar um de seus hits, Se Ba Ho:

Influências do Afrobeat na música brasileira

O Brasil não ficou de fora das influências dessa batida africana. O contato ocorreu ainda na década de 1970, com os álbuns Refavela, de Gilberto Gil, e Bicho, de Caetano Veloso, que apresentam várias referências desse estilo.

Eles foram produzidos após uma viagem dos músicos à Nigéria, onde conheceram o próprio Fela Kuti. 

Mas isso não é exclusividade de músicos mais antigos. Hoje em dia, existem vários artistas que incorporam a mistura africana a suas canções, como é o caso da cantora IZA, com a música Ginga

E existem algumas adaptações atuais ao Afrobeat original. A duração das músicas, por exemplo, não é tão longa quanto as originais. Essa redução ajuda o público a curtir mais o som

Também há várias composições que são exclusivamente instrumentais. Nesses casos, trata-se muito mais de uma homenagem à sonoridade africana do que de uma reprodução fiel do estilo. 

Análise de This Is America

Assim como os brasileiros, os americanos também foram influenciados pela originalidade do Afrobeat. Um dos artistas que aplicou a influência em suas músicas é Childish Gambino.

Ficou curioso para saber como ele fez isso? Descubra agora a nossa análise e o significado por trás de This Is America, um de seus maiores sucessos!