Viradouro de Alma Lavada
Niu Souza
A Viradouro num canto de fé
Vem exaltar a mulher
Com as bênçãos de xangô, kaô kaô
De alma lavada eu vou!
Vem da Bahia, essa Maria guerreira
De alma cafuza, de paixão vermelha
Onde o branco espelha
A memória dos nossos ancestrais
Na luta por liberdade e paz
Oxum, rainha das águas escuras do Abaeté
Lugar comum, onde as lavadeiras ensaiam um canto de fé
Pedindo ao astro rei que aqueça a manhã
Do mar aberto de Itapuã
Jangadeiro joga a rede, vai ter peixe a granel
Guaricema, robalo, peixe galo e xaréu
No fuá do mercadejo vou vender na freguesia
Realizar o desejo de comprar minha alforria
Em romaria lá vão as Marias rumo a salvador
No dorso o erê, no corpo o cansaço
Milhares de passos, vencendo a dor
As aguadeiras vendem água de beber
Em sinfonia o vento agita os balangandãs
Quituteiras e artesãs participam da festança
Ao som do malê a ciranda é a dança
Seus atabaques unem orun-ayê
Os pés já calçados, os punhos cerrados
Sonhos realizados, igualdade então
Ao sagrado a sua devoção
Na lavagem da escada da Matriz da Conceição
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